Por Tiago Pereira (12ºC)
Depois de tanto pensar… pensar… pensar… e pensar…, pensei que pensar não seria a melhor forma de me decidir quanto ao meu “ídolo” heterónimo. Então, mais uma vez, decidi pensar no que deveria pensar ou não pensar, para chegar a alguma conclusão, pensando. No meio de tantos pensamentos, e depois de pensar muito, cheguei à conclusão que… pensar custa muito, dá muito, mas muito, trabalho. Mas afinal, sobre quem cai a minha escolha? Decidi escolher Álvaro Campos, pois tanto ele, como eu, concordamos que pensar dá-nos cabo do juízo.
Sou sem dúvida um fã do sensacionismo, pois, de outro modo, para que serviriam as belas obras de Picasso se não as víssemos? Para que serviria a bela música se não a ouvíssemos? Para que serviriam as maravilhosas fragrâncias se não as pudéssemos cheirar? Para que serviriam as flores e as árvores e os montes e o sol e o luar, Caeiro? Para que serviria a vida se não a quiséssemos viver, caro Reis?
As emoções chegam sem pedir licença e alojam-se no nosso ser. São geradas em momentos e sem que as esperemos. Algumas vezes alegram-nos, outras deixam-nos perplexos com algumas situações. Mas o que seria de nós sem elas? Pessoas sem vida, sem porquê, sem agir, sem sentir. Pessoas sem referencial, sem ideal. No fundo... pessoas sem viver.
Elas estão presentes em nós, não temos como negá-las e, em alguns momentos, é tão bom senti-las… em outros, é tão bom esquecê-las. Mas que bom é poder estar com elas e sempre... sempre poder tê-las... pois isso significa que estamos vivos, que podemos errar e acertar e, acima de tudo, tentar.
As diferentes fases de Campos fazem-me lembrar uma dança, de Buenos Aires… um tango. Assim como o tango, Álvaro Campos nunca poderá ser alegre, e através da “canção” expressa os seus sentimentos e as suas críticas perante o amor, a dor e a alegria. Também a nostalgia pelo perdido e irrecuperável, a rebelião contra o que é ausente, e a amargura que submerge na miséria do Homem antigo.
O tango é todo instinto, pouco racional, pouco intelectivo, por pertencer ao mundo do sentimento e do instinto criador... sendo a expressão essencial da nossa passividade, da nossa tristeza fundamental, do nosso sensualismo lânguido, da nossa preguiça, da nossa desolação, enfim, das nossas sensações.
O tango não é triste. O tango é sério, é pessimista, é frustrante e erótico. É o reflexo inacusável de nós mesmos, que somos fundamentalmente sérios...
O drama de Álvaro de Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade. É uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, como no tango, não há espaço para as duas coisas, ou o pensamento ou o sentimento, e é por isso que eu gosto de Campos, porque para ele vencem as sensações, o sentimento.
Para Campos, sentir é tudo e o seu desejo é “sentir tudo de todas as maneiras”.
Por isso termino dizendo que prefiro viver a minha vida num tango escaldante de sensações, do que numa valsa singela a absorver o rio, que passa.
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