Por Inês Sousa (12º C)
Pediram-me para escolher um de entre os vários heterónimos de Fernando Pessoa. Tarefa difícil; afinal, toda a poesia de Pessoa assenta numa única base – a dor de pensar, ou melhor, como evitá-la.
Todos os poetas de Pessoa adoptaram, assim, estratégias diferentes para superar este problema com que todos nos deparamos. Caeiro, o mestre, suspende os pensamentos e substitui-os apenas por sensações, como uma criança crescida. Reis bloqueia os sentimentos para evitar ferir-se. Campos maravilha-se com a técnica e a modernidade, mas fica deprimido com a sociedade moralista que a criou. E Pessoa ortónimo sonha – sonha com a infância idílica, com diferentes “eus” dentro do “eu”, imagina os sentimentos para não ter de sentir os reais. Todos estes sonhos protegem-no da realidade dura e fria.
Penso que a magia de Pessoa está aí: todos sofremos com a dor de pensar, logo, não é difícil identificarmo-nos com os seus poemas, nos quais são criados escudos para evitar que soframos. No entanto, os escudos criados por Caeiro, Reis ou Campos são impossíveis de alcançar; se fossem reais, iriam despersonalizar-nos. Não nos é possível, enquanto humanos, não pensarmos, não nos emocionarmos, olharmos para tudo como se de crianças nos tratássemos.
Pessoa ortónimo é o único próximo da realidade humana. Diferente das protecções idealizadas dos heterónimos, a sua protecção consiste em sonhar – algo tipicamente humano. É claro que, quando acordamos do sonho, a realidade magoa-nos novamente; o próprio Pessoa se apercebe disso. Mas, pelo menos enquanto sonhamos, mantemo-nos intactos. É algo que podemos fazer e não idealizar.
Por esta razão, é Pessoa ortónimo que me atrai mais. Prefiro magoar-me, mas ser humana, do que não me magoar por ser uma estátua…
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