sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Francisca, César Magarreiro (Sugestões de leitura)

Por Susana Dias

Sinopse

A história desenrola-se no coração de Lisboa, depois da fúria do sismo de 1755. Mas não é só este terramoto natural que marca esta época, também há os sociais, morais e políticos, no tempo em que reina D. José e governa Marquês de Pombal. Os últimos autos-de-fé são proferidos pela Inquisição. Esta história mostra-nos toda esta época, servindo-se de diversos relatos, livros de visitação, cancioneiros e processos do Santo Ofício. É neste clima que surge a protagonista - Francisca, uma escrava negra, maltratada e humilhada pelos seus donos. Exausta de tanta violência, Francisca recorre a feitiços e amores na tentativa de conseguir uma vida mais justa para si e para os seus filhos.
É, então, a vida desta mulher, os seus triunfos, as suas desventuras, os seus receios, num pano de fundo instável, que o autor relata, como se de uma biografia verdadeira se tratasse.

Apreciação crítica

Registo de duas citações marcantes:
“Neste tempo o acto de pedir esmola não era visto como uma acção humilhante. Chegou mesmo a haver atestados de moralidade para alguns pedintes que aceitavam não apenas dinheiro, mas todos os tipos de esmola transportando por vezes cestos géneros, produtos de dádivas que recebiam.”
“A vida vai continuar, apesar de a partir de hoje já nada poder vir a ser como era dantes.”
Esta obra não foi das que mais apreciei porque o autor caiu na tendência de escrever uma quase narração meramente histórica quase fazendo lembrar os livros de História. É, além isso, um livro pobre em recursos estilísticos, notando-se, especialmente, uma grande ausência de metáforas. O escritor faz uma descrição extensiva dos feitiços (dos ingredientes e dos procedimentos) como se fossem uma “receita”. Por outro lado, achei que Cesár Magarreiro efectuou um trabalho de pesquisa muito bem elaborado. Contudo, não seria necessário “despejá-la” no livro.
Esta obra fez-me reflectir, especialmente, sobre a Inquisição, com toda a sua mistura de espiritualidade, intolerância e fundamentalismo. Fez-me pensar, também, nas diferenças e nas semelhanças entre a sociedade portuguesa de antes e actualmente. E será que o nosso pensamento em relação à possibilidade de ocorrência de um sismo não será o mesma de há dois séculos atrás? Será que continuamos com o pensamento de que só num futuro distante irá ocorrer a próxima calamidade e que por isso não nos preparamos devidamente?

Sem comentários:

Enviar um comentário