domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sugestões de leitura - "O Adolescente Milionário"

O Adolescente Milionário, Jonathan Self

Por Eduardo Lopes

Trata-se do guia financeiro de todos os jovens ambiciosos. Para quem acha que o dinheiro é um assunto aborrecido, vale a pena pensar nisto: quando se tem dinheiro, pode-se comprar e fazer o que se quiser. O dinheiro é um passaporte para uma vida mais fácil e confortável. Significa liberdade. Na verdade, a única coisa aborrecida acerca do dinheiro é não ter o suficiente. E é por isso que este é um livro interessante. Porque explica como podes sempre ter dinheiro suficiente.
Neste livro, Jonathan Self desmistifica todos os aspectos relativos à gestão do dinheiro, desde o funcionamento de contas bancárias aos perigos dos cartões de crédito. Usando sempre uma linguagem clara e acessível, Self alerta também para o cuidado que se deve ter quando se tomam decisões relacionadas com dinheiro e ensina como fazer um bom orçamento.
Com muita informação e conselhos úteis, este é um livro indispensável para aprender todos os segredos sobre o dinheiro.

Apreciação crítica:

Vou começar por dizer que este livro é ideal para pessoas que não têm a mínima ideia de como gerir o seu dinheiro. Este livro, apesar de antes já dar o devido valor ao dinheiro, veio fazer com que eu gerisse melhor o meu dinheiro, tirando maior proveito do mesmo. É um livro que está muito bem organizado, por tópicos, e que tem uma linguagem bastante acessível, até porque é destinado aos jovens, e isto permite uma melhor compreensão das ideias do autor e também ajuda a decorar melhor essas mesmas ideias. Eu gostei muito do que li e principalmente do que aprendi com o livro, e o facto de a minha área de formação ter a ver com o livro também ajudou a uma melhor compreensão do mesmo.
Este livro, na capa, diz que é um guia financeiro para todos os jovens ambiciosos, sendo que esta frase vai fazendo mais sentido a cada página virada. Ou seja, o que quero dizer com isto é que realmente se no início do livro já somos ambiciosos e queremos sempre mais, no final, eu acho que ficamos um bocado obsessivos com esta ideia. Eu não sei se vocês já puseram a mão na consciência, mas eu queria que reflectissem comigo. Por exemplo, quando nós, jovens, estamos em tempo de aulas, gastamos um dinheiro absurdo em pequenos-almoços. Ou seja, um pequeno-almoço a 1,50€ dá, no final da semana, 7,50€. Isto é, no final do mês são 30€, repito, 30€. Uma ideia que deixo é trazerem uma sandes e um pacote de leite de casa, fazendo com que esses 30€ dêem, por exemplo, para passear num fim-de-semana ou ir ver um jogo de futebol.
Concluindo, acho que já toda a gente percebeu com este meu último exemplo que o dinheiro pode ter um maior aproveitamento nas nossas mãos do que realmente tem.


Gostei de ler este livro porque, em primeiro lugar, está destinada aos jovens. Em segundo lugar, porque a minha área de formação enquadra-se no tema deste livro, tornando-o desde logo atractivo. E, em terceiro lugar, porque é uma obra que faz "abrir a pestana", ou seja, faz com que nós pensemos na importância que o dinheiro tem nas nossas vidas. Esta obra fez-me reflectir sobre a importância que o dinheiro tem na nossa vida. Nós, jovens, desvalorizamos muitas vezes o dinheiro, gastando-o em coisas desnecessárias. Esses gastos podiam contribuir para uma vida de melhor qualidade, no futuro, mas para isso é preciso saber investir. Este livro veio numa altura excelente da minha vida, pois posso ainda ter a oportunidade de pôr muitos destes planos em prática, assegurando desde já o meu futuro. Penso que é nestes pontos que o livro me fez reflectir: Economia, Poupança e Futuro.

Obrigada!

As professoras responsáveis pelo projecto "Comunidade Escolar de Leitores" querem deixar expresso o seu agradecimento aos alunos Tiago Dinis, do 12ºB, e Nuno Ralha, do 12ºE, pela inestimável colaboração prestada na elaboração deste blogue. Querem igualmente agradecer a todos aqueles que gentilmente nos têm enviado os seus textos para publicação pois, sem essa "dádiva", nada disto seria possível!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

“O Professor é uma despedida irresistível de um homem que encontra a sua voz na sala de aula, na escrita e na sua alma”.
The New York Times Book Review


PARTE I (p.23) – (1)“O longo caminho até à pedagogia”

• “Estou a aprender trabalhando” (p.23)
• O que foi marcante em trinta anos, foram os episódios com alunos, aparentemente “sem importância”, mas que poderiam tê-lo feito abandonar o ensino – por despedimento.
• Perspectiva do ensino técnico-profissional nos anos 50-60: alunos com cerca de 16 anos que frequentam a escola há 11 anos – têm forte experiência de relações humanas e conhecimento da psicologia humana, que usam para manipular, na escola. Verificam-se conflitos entre etnias diversas e os gangues que se formam a partir daí.
• “Cinco turmas, trinta e cinco alunos em cada turma”. (p.27)
• “Sou professor (…) e conto histórias (…). É uma rotina que os acalma no caso – improvável – de eu querer ensinar qualquer coisa que faça parte da matéria.” (p.39)
• “McCourt (…) espere. Era o chefe do departamento. Você tem tudo para ser um bom professor. (…) Afinal, não era assim tão idiota. (…) Professor.” (pp.70-72)
• “Tantas horas de trabalho, um ordenado tão baixo e quem é que nos agradecia por aturarmos (…). Era por isso que o país estava sem professores.” (p.83)
• Dia da Escola Aberta / Noite Aberta: os pais na escola; a ligação escola-casa. (p.87)
• “Os professores de Inglês dizem que se um professor conseguir ensinar gramática numa Escola profissional (…) conseguia ensinar tudo em toda a parte”. (p.99)
• As justificações de faltas: grandes momentos de imaginação dos alunos, que escrevem fantásticos textos, brilhantes de criatividade. (pp.102-103)
• Contabiliza as aulas dadas (33000). Encara o ensino universitário como uma possibilidade de ter uma vida melhor, mais tranquila.

Parte II (p.133) - (9) “Burro com fome, cardos come”

• A tese de mestrado (p.119)
• Kevin e o Vietname (pp. 115-116)
• “A escola devia ser assim todos os dias”. (p.108)
• Ninguém tem respeito pelos professores “que fazem queixinhas”. (p.110)
• Atinge o grau de Mestre – em 1966. A sequência seria a carreira de professor universitário. Mal pago (ganha menos), mas espera outra atitude dos alunos e menos trabalho. Os alunos são trabalhadores estudantes, muitos estrangeiros – não dominam a língua, poucas bases culturais e pouca auto-estima. O professor sugere-lhes que pesquisem, mas pensem pela “própria cabeça”. (p.140)
• “menosprezar os miúdos das escolas profissionais”; “professores que evoluem para altos cargos (supervisão e administração)”- uma visão à qual ele simplesmente contrapõe: “Vim para ser professor” – não foi talhado para percorrer os corredores do poder. (p.143)
• A agressão a Hector – as escolas católicas e a tradição irlandesa. (p.148)
• Nova escola secundária – um melting-pot em que o inglês é a segunda língua e o professor se confessa incapaz para enfrentar o desafio, uma vez que lhe falta formação adequada. (p.157) A questão da formação em contexto de trabalho não se coloca nunca.
• Estamos em 1968: choques vários na turma e a história da visita de estudo – a questão do respeito.
• “quanto mais nos afastamos da sala de aula, maior é a nosa recompensa – pessoal e profissional. “ (p.180)
• O psicanalista. (p.194)
• O doutoramento (Trinity College) marca o regresso à Irlanda (2 anos). Encontra dificuldades. Não consegue concluir. Enfrenta o despedimento, a itinerância, a vida de professor substituto”. Os alunos enfrentam esta classe de professores, assumindo que está “na hora de dar de frosques” (p.203)

Parte III (p.207) - (12) – “O regresso à sala 205”

• Stuyvesant High School, o melhor liceu da cidade, nova escola. (p.207)
• O Professor encontra nesta escola um lugar permanente (pp.207-208)
• “Ao fim de um dia de aulas, temos a cabeça cheia de barulho, preocupações e sonhos de adolescentes. Continuam connosco durante o jantar, quando vamos ao cinema, à casa de banho, para a cama. Tentamos tirá-los da cabeça. Vão-se embora. Estou a ler um livro, o jornal, o quem está escrito nesta parede. Vão-se embora.” (p.208)
• Desejo de mudança mitigado pelo nascimento da filha, em 1971 – chamada à realidade. (p.208)
• A Stuyvesant é uma escola à escala humana, onde o Professor se sente pela primeira vez “livre na sala de aula”. No entanto, sendo a escola exigente, “a Harvard dos liceus”, os alunos faziam trabalhos enormes que exigiam, por sua vez, horas intermináveis de trabalho de correcção e classificação. (p.210)
• Alunos “burgueses, com uma vida confortável”, “metade (…) em psicoterapia, preocupam o Professor. Em 1974 é convidado a dar aulas de Escrita Criativa e dessa experiência diz que está “a aprender”. (pp.213-215)
• Aos 49 anos, com um casamento falhado, sem casa própria, as aulas são um escape. Entretanto, partilha a casa de um artista, num bairro boémio, em Brooklyn. (pp. 220-223)
• Grangeia fama de professor um pouco lunático e original, que nas suas aulas de Escrita Criativa distribui “notas altas como se fossem amendoins. (p.224)
• “Ao fim de quinze anos em quatro liceus (…) e na universidade (…) tinha desenvolvido um faro de cão, (…) conseguia sentir o cheiro da sua composição química (…): os ansiosos, voluntariosos, o cool, os que gostavam de dar nas vistas, os indiferentes, os hostis, os oportunistas que só estavam ali porque tinham ouvido dizer que eu dava boas notas, os namorados que só queriam estar perto dos respectivos parceiros. (p.227)
• “Na Stuyvesant, decidi admitir (…) que “Não vou utilizar a ignorância como desculpa. (…) Vou estabelecer um programa de desenvolvimento pessoal para ser um professor melhor: disciplinado, tradicional, sábio, engenhoso, desembaraçado. (pp.228-229)
• “Estava a encontrar a minha voz e o meu estilo de dar aulas (…) o novo chefe do Departamento (…) dava-me rédea solta para experimentar ideias novas sobre escrita e literatura (…9 e os meus alunos eram suficientemente maduros e tolerantes para me deixarem descobrir o meu caminho sem a ajuda da máscara nem da caneta encarnada. (p.299)
• A experiência da comida e dos livros de receitas “musicados” é divertida, mas gera contestação pelo barulho e pela sensação de interdito. (p.236)
• Desencanto. “Está sempre na periferia. Não tem mulher, tem uma filha que raramente vê. Não tem visão, nem objectivos, nem um plano (…) é o “homem que transformou a sala de aula num recreio, numa sessão de rap e num fórum de terapia de grupo. (p.237)
• No entanto, subtilmente, os alunos desenvolvem capacidades como a sensibilidade ao texto/música e o espírito crítico. (pp.238-239)
• Muda ligeiramente a estratégia leitura de poesia e discussão sobre as temáticas suscitadas – mas não “é obrigatório reagir sempre a estímulos.” (p.246-248)
• Diferentes extractos sociais, diferentes realidades e reflexão sobre coisas profundas e marcantes na vida destes jovens e o seu american way of life. (pp.250-251)
• As segundas-feiras e os artigos sobre restaurantes do New York Times aproveitados para o desenvolvimento vocabular e análise da linguagem. (p.255-257)
• A”Escola Aberta” na Stuyvesant é peculiar, porque 3000 alunos podem não corresponder a 6000 pais, mas a 1000, devido à questão do divórcio e às novas famílias. Exercício de reflexão sobre os problemas/dramas familiares dos alunos (p.258-269)
• “Estou a aprender”. Observa a classe média e a classe média alta e confronta-se com as suas raízes pobres. O aspecto positivo é que “os alunos estão a desabrochar na escrita e nas discussões na aula” e admitem, apesar dos dramas vividos, que as suas vidas são “vazias” quando comparadas com a sua: “O senhor tem sorte, Professor McCourt. Teve essa infância miserável e, por isso, tem material para escrever.” (…) Um dos alunos, por contraste, faz “a descrição mais infeliz da vida americana que ouvi numa sala de aula dum liceu. Mas tem todos os ingredientes do grande romance americano.” (pp.270-274)
• Os alunos questionam as famílias sobre vivências e aprendem e (re)estabelecem laços. E a avaliação do trabalho desenvolvido? Estes alunos esperam ser avaliados, seriamente avaliados. O Professor propõe que façam eles a sua auto-avaliação, o que os “alunos conscienciosos” dificilmente aceitam. Esperam que o professor seja “formal”. Levanta-se, então a questão: o que é o ensino? É uma equação, o equilíbrio entre MEDO e LIBERDADE. (p.281)
• “A sala de aula é um lugar de emoções fortes.” (…) “Hei-de sobreviver.” (…) “Professor McCourt, devia escrever um livro.” (…) “Vou tentar”. (pp.282-286)

Sugestões de leitura - “Viagens de Gulliver”

“Viagens de Gulliver”, Dean Jonathon Swift

Por Pedro Gaspar

A obra inicia-se com o naufrágio do navio onde Lemwel Gulliver, o protagonista da história, sobrevive a um naufrágio, sendo arrastado para uma ilha – Lilliput – que era habitada por seres de pequena estatura, que estão em constante guerra com os habitantes dos países vizinhos devido a futilidades.
Após ter conseguido sair de Lilliput, Gulliver embarca numa nova aventura, que terminará de novo num naufrágio. Desta feita Gulliver conhece Brobdingnag, uma terra de gigantes onde é visível a mediocridade diante a “grandeza” dos habitantes.
Uma vez conseguido fugir de Brobdingnag, Gulliver acaba por chegar à ilha flutuante de Laputa, habitada por magos de elevada inteligência.
Por fim e na sua última viagem, Gulliver encontrou-se com uma raça de cavalas designada por Houyhnhm, possuindo um elevado grau de inteligência e tementes dos Yahoo (uma raça imperfeita de seres humanos). Gulliver vê a humanidade como elementos da raça Yahoo e tem medo e receio do ser humano.
De volta a Inglaterra, e após ter passado por Portugal, Gulliver vai ensinar a todos as virtudes e conhecimentos que aprendeu com os Houyhnhm.

Apreciação crítica

Gostei de ler esta obra e recomendá-la-ia uma vez que faz uma interessante crítica à sociedade entre o final do século XVII e a primeira metade do século XVIII. Para além disto, esta obra permite conhecer um pouco do estilo literário utilizado na época, causando, através do relato de viagens, impacto nos leitores.
A narrativa deste livro é de fácil leitura, no entanto, a crítica política e social está sempre presente, tendo em conta o percurso das viagens realizadas pelo personagem.
Contudo, a fantasia, a graça e o prodigioso espírito de invenção que a obra revela, torna esta obra numa magnífica opção de leitura.
Por fim, com “As Viagens de Gulliver” podemos obter uma lição de alto valor moral, pois esta afirma a sólida energia de um homem que, forçado a suportar calamidades dolorosíssimas e a adaptar-se a cada momento a circunstâncias dificílimas e até agressivas, tudo vence e tudo supera, em atitudes sempre dignas e de excepcional coragem.
Apesar de considerar esta obra como uma excelente leitura, penso que por vezes o autor se tornou muito repetitivo, ao manter sempre as mesmas peripécias do personagem, ainda que em locais diferentes.


Ao ler esta obra apercebi-me da ferocidade da natureza humana. Especialmente quando a personagem principal, Gulliver, viaja para o país dos Houyhnhnms, uma espécie de cavalos inteligentes e civilizados, que ficam muito surpreendidos quando vêem surgir-lhes à frente um yahoo envolto em roupas e capaz de falar. É que, naquela terra, os homens (ou seja, os yahoos) são bestas repelentes, sujas, estúpidas e viciosas, cuja única serventia são as mãos. Os cavalos (Houyhnhnms), pelo contrário, são não só civilizados como desconhecem por completo o conceito de mentira e vivem numa espécie de utopia igualitária.
Em suma, “As Viagens de Gulliver” despertou-me, com instrumentos da fantasia, do fantástico e mesmo, por vezes, da ficção científica, para um ataque sem dó nem piedade a todos os vícios e a todas as pequenas e grandes trafulhices da estrutura social nas Ilhas Britânicas no século XVIII, tão semelhante em tantas coisas à estrutura social actual em toda o mundo.

Sugestões de leitura - "Diário de Anne Frank"

Diário de Anne Frank

Por Tiago Pereira

Anne foi uma judia obrigada a viver escondida dos nazistas durante o Holocausto.
O diário de Anne frank conta a história de uma menina de família judaica que viveu na época da segunda guerra mundial, cuja vida lhe reservou pouca sorte e que se escondeu durante anos com a sua família e alguns amigos em Amesterdão para se escapar à fúria hitleriana de acabar com os judeus, tentando enfrentar em silêncio os nazis.
Anne frank, com 13 anos, escreveu o seu surpreendente Diário em forma de cartas, inicialmente apenas para si, até que na primavera de 1944 ouviu pelo rádio o discurso do ministro da educação holandês, no exílio. Este dizia que quando terminasse a guerra se deveriam compilar e publicar todos os testemunhos do sofrimento do povo holandês durante a ocupação alemã. Um dos exemplos que nomeou era os diários. Impressionada pelo discurso, Anne Frank decidiu publicar um livro depois da guerra para o qual o seu diário serviria de base. As suas últimas anotações datam do primeiro dia de Agosto de 1944. No dia 4 desse mesmo mês, os alemães irromperam pela casa e detiveram Anne e a sua família. Porém, o seu diário foi resgatado por amigos da família e posteriormente o seu pai publicou-o pela primeira vez.
Anne escreveu neste mesmo diário tudo o que passou com este grupo de pessoas neste período de guerra entre nações até a sua morte. Todo o sofrimento, toda a sua revolta e todas as perguntas que fazia frequentemente a si mesma são relatadas na primeira pessoa neste diário de uma vida não vivida.
Durante sete anos levou uma vida despreocupada na, relativamente segura, Holanda. Mas a Alemanha ocupa o país em 1940, pondo fim à segurança que oferecia. As medidas anti-semitas limitavam cada vez mais a vida dos Frank. Em 1942, começaram as deportações para os supostos campos de trabalho.
Os pais de Anne conseguiram, juntamente com mais quatro pessoas, esconder-se num anexo de quartos por cima do escritório do seu pai, em Amesterdão, na Holanda, denominado Anexo Secreto. Ali permaneceram 25 meses.
Não sabia por que é que o povo hitleriano perseguia os judeus e porquê toda aquela guerra. Mas, ao longo do tempo, começou a arranjar respostas para as suas dúvidas e tentou arranjar uma maneira de se proteger a si e a toda a sua família.
Ao fim de longos meses de silêncio e medo aterrorizante, acabou por ser denunciada aos nazistas e deportada para campos de concentração. Primeiro foi levada juntamente com a família para Westerkerk, na Holanda, antes de serem deportados para o leste da Europa. Anne Frank foi deportada inicialmente para Auschwitz, juntamente com os pais, irmã e as outras pessoas com quem se refugiava na casa de Amesterdão. Depois levaram-na para Bergen Belsen, juntamente com a irmã, separando-a dos pais. Ali, milhares de pessoas morriam diariamente por causa da fome e das enfermidades.
Em 1945, nove meses após a sua deportação, Anne Frank morre de tifo em Bergen Belsen. A irmã, Margot Frank tinha falecido também vítima do tifo e da subnutrição um dia antes de Anne. Tinha quinze anos. Morre duas semanas antes de o campo ser libertado. Otto foi o único dos escondidos que sobreviveu no campo de concentração.
Concluindo, este diário trata-se de um testemunho das dificuldades e horrores passados pelos judeus durante a segunda grande guerra.

Apreciação crítica

Valeu a pena ler esta obra? Há que dizer que tudo vale a pena se a alma não é pequena! Vale mesmo muito a pena. É um livro que nos põe a reflectir sobre a vida e sobre a sorte que temos de possuirmos o bem mais precioso, a paz e a liberdade.
Não se pode dizer que é um lindo livro, no sentido de nos maravilhar. No entanto, todos nós devíamos lê-lo para sabermos o bem que temos: a paz. Mais, saborearmos a vida e deixarmo-nos de ódios, mesquinhices que, ao pé da experiência desta pequenina Anne Frank, não são nada.
Este livro é uma obra-prima e todos o devíamos ler e, depois, fazer uma reflexão bem assertiva sobre o que queremos da vida e daqueles que nos rodeiam.
Este é um livro incontornável que faço questão de recomendar, já que é a verdadeira história de uma menina que tinha sonhos e, em vez de ter direito a eles, viu a sua vida transformar-se num terrível e desumano pesadelo. A esperança de Anne vai-se desvanecendo neste testemunho de uma vida à beira de ser ceifada.
É fundamental que os adolescentes dos nossos dias tenham a noção desta vergonha da história da Humanidade, pela Anne e para que nunca mais se volte a repetir!
Através deste livro passei a conhecer uma nova realidade, para além de todos os factos históricos relacionados com a segunda Guerra Mundial, passei também a conhecer o que sentiam todos os que foram confrontados com a discriminação Nazi e como tentaram fugir a este extermínio. Assim, será importante que mais pessoas leiam este livro, para também elas conhecerem esta realidade, para que nunca mais se repita.


É difícil, muito difícil mesmo, elaborar uma opinião diferente de qualquer ser verdadeiramente humano sobre o holocausto e que não contenha sentimentos de tristeza, angústia, revolta, impotência. Depois de ler este diário mais inconformado fico sobre como foi possível a humanidade deixar que um louco, violentamente anti-semita, especialmente dos Judeus, cometesse tanta atrocidade ao mesmo tempo, pela estúpida ambição do poder. Ao ler O dário de Anne Frank ainda mais frustrado fiquei ao sentir toda a situação de ela ter vivido enclausurada durante dois longos anos nuns “calabouços”, anexos duma habitação. Com a agravante de se passar na sua adolescência, destruindo-lhe parte dos seus anseios, ideais, sonhos e, sobretudo, da sua alegria.
Percebe-se, facilmente, que aqueles dois anos foram extremamente importantes na sua formação como adulta, e, talvez pela peculiar circunstância do ambiente que viveu, amadureceu mais rápido que a maioria dos jovens nesta fase. Isso nota-se, sobretudo, na fase final do livro, com uma escrita profundamente impressionante sobre tudo aquilo que a rodeia. Curiosamente, não consegui ver imagens a cor ao ler os relatos de Anne. Vi tudo a preto e branco, pela densidade de negrura que o holocausto me deixou.

"Terça-feira, 1 de Agosto de 1944...

Já te contei em tempos (Kitty), que não tenho uma só alma mas sim duas. Uma dá-me a minha alegria exuberante, as minhas zombarias a propósito de tudo, a minha vontade de viver e a minha tendência para deixar correr…
Esta primeira alma está sempre à espreita e faz tudo para suplantar a outra que é mais bela, mais pura, mais profunda. Essa boa alma da Anne ninguém a conhece não é verdade? (…). Empurro por vezes a boa Anne para a luz da Ribalta, mesmo que seja por um escasso quarto de hora, mas logo que ela tem de falar, contrai-se e fecha-se de novo na sua concha, passando a palavra à Anne nº1. E antes que me dê conta, já a boa desapareceu. (…)

No meu interior, a Anne pura é que me indica o caminho; exteriormente, não passo de uma cabritinha que pula de alegria e de animação.”
Ao ler este diário, apercebi-me do quão injusta é a vida, e do quão injusta foi para Anne, mas, para mim, Anne Frank não morreu e quero recordá-la como a vi no seu diário: ma cabritinha travessa, à solta.
No fim da leitura deste livro senti-me um pouco confuso entre o gostar de ter conhecido Anne Frank e o facto do pai dela ter divulgado o seu diário íntimo. E este último cenário revolta-me um pouco. Não sei se ele o fez por oportunismo ou em defesa da dignidade do ser humano como valor absoluto. No entanto, há que realçar que se esta obra não fosse publicada, o mundo nunca poderia ter uma visão tão real quanto às vítimas do Holocausto.
Esta obra faz-nos reflectir sobre os bens que muitas vezes não nos apercebemos que temos, a liberdade e a paz.


“Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que a explique e ninguém que não a entenda.”
Cecília Meireles

Reflexões - Alberto Caeiro

Por Andreia Pratas

De todos os heterónimos que estudámos, Alberto Careiro é, de todos eles, aquele com quem mais me identifico.
Enquanto Ricardo Reis é um homem de ressentimentos e cálculo, Caeiro é ingénuo, aberto, expansivo, é contente por Natureza. Tem o prazer de ver e de sentir.
Embora ambos elogiem a grande tranquilidade do viver campestre, Caeiro é dos dois aquele que sente e vive realmente a Natureza. Vive de impressões, sobretudo visuais, e goza de cada impressão o seu conteúdo original.
Caeiro não admite a realidade dos números e não quer saber nem do passado nem do futuro, pois recordar é atraiçoar a Natureza, e, para Caeiro, tudo se baseia na simplicidade e na serenidade que a Natureza demonstra.
É um poeta do real, do objectivo, e por isso a maior parte das suas comparações dizem respeito à natureza “Mas eu fico triste como um pôr do sol” e “Quando esfria no fundo da planície/E se sente na noite entrada/como uma borboleta pela janela”.
É, em suma, um simples homem da natureza, inteiramente desligado dos valores da cultura e por isso é que prefiro a sua poesia modesta e simples, que nos leva para um mundo diferente daquele onde nós vivemos.

Reflexões - Alberto Caeiro

Por Inês Godinho

É na incessante tentativa de descoberta do seu próprio “eu” que Fernando Pessoa acaba por ficar perdido no meio de uma identidade múltipla.
A sua sensação de hesitação e dúvida levam-no a criar personagens que exprimem percepções, conhecimentos de vida e do mundo e estados de alma por vezes distintos dos seus, representando assim a diversidade que possui interiormente.
O “eu” de Fernando Pessoa despersonaliza-se, desdobra-se e conquista a capacidade de fingir criando assim os seus heterónimos que lhe permitiram “viver quase todas as possibilidades de ser e de estar no mundo”.
A busca da felicidade, inatingível devido à constante procura do conhecimento associado ao pensamento, levou Fernando Pessoa a criar o famoso “Guardador de rebanhos”, poeta da natureza e da simplicidade. Alberto Caeiro nasceu em 1889, em Lisboa, e morreu em 1915. Não tendo profissão nem educação, acabou por viver de pequenos rendimentos, no campo, onde aprendeu a viver de acordo com a Natureza, amando-a por ela mesma e revelando-se um poeta pagão.
Contrariamente a Fernando Pessoa que, como ser consciente, não consegue tirar partido das coisas pois racionaliza-as demasiado, Alberto Caeiro interpreta o mundo através dos sentidos uma vez que não há conhecimento implícito no que vê. Leva a cabo uma recusa do pensamento na qual apenas interessa o real e o objectivo. Sente-se, assim, parte integrante da Natureza, amando-a por si só.
A felicidade que lhe advém do facto de não pensar e que lhe permite viver despreocupadamente segundo o lema ”pensar é estar doente dos olhos” faz deste heterónimo o meu predilecto pois, hoje em dia, as pessoas têm tendência a pensar demasiado esquecendo-se que o verdadeiro sentido e significado das coisas pode ser encontrado de formas simples e não requerem mais do que uma observação.
Tal como Caeiro, também nós precisamos por vezes de afastar os pensamentos que nos possam perturbar e concentrarmo-nos em observar o mundo de forma simples para que assim consigamos alcançar a tão esperada felicidade.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Reflexões - Alberto Caeiro

Por Cátia Costa

Dos heterónimos de Fernando Pessoa que estudámos, o único com o qual me identifico mais é o Alberto Caeiro pois este tem algumas características que eu admiro, como, por exemplo: Caeiro via, através dos seus sentidos, a realidade e a vida de forma objectiva e natural, ou seja, aceitava a realidade tal como ela é, de forma tranquila, e não se questionava sobre o porquê de existir vida. Simplesmente não necessitava de explicações, e sem recorrer ao pensamento, aceitava que existíamos, sem colocarmos qualquer questão adicional.
Um dos pontos com o qual também concordo é que Caeiro recusa totalmente o pensamento metafísico, isto é, rejeita o pensamento, a racionalização, os sentimentos, porque estes desvirtuam a realidade e a partir do momento em que se recorre ao pensamento este torna-se uma doença como diz em”pensar é estar doente dos olhos”.
A poesia de Caeiro também é conhecida pelo sensacionismo pois ele utiliza a audição e a visão para observar toda a realidade que o rodeia. Na sua poesia predominam as sensações visuais, como, por exemplo, ”vi como um danado” ou “compreendi isto com os olhos e nunca com o pensamento”.
Alberto Caeiro também era conhecido pelo seu panteísmo naturalista pois para ele tudo era deus e as coisas eram divinas como por exemplo ”deus é as árvores e as flores e os montes e o luar e o sol…”.
São estes os motivos que me aproximam de Alberto Caeiro.

Reflexões - Alberto Caeiro

Por Cátia Costa

Dos heterónimos de Fernando Pessoa que estudámos, o único com o qual me identifico mais é o Alberto Caeiro pois este tem algumas características que eu admiro, como, por exemplo: Caeiro via, através dos seus sentidos, a realidade e a vida de forma objectiva e natural, ou seja, aceitava a realidade tal como ela é, de forma tranquila, e não se questionava sobre o porquê de existir vida. Simplesmente não necessitava de explicações, e sem recorrer ao pensamento, aceitava que existíamos, sem colocarmos qualquer questão adicional.
Um dos pontos com o qual também concordo é que Caeiro recusa totalmente o pensamento metafísico, isto é, rejeita o pensamento, a racionalização, os sentimentos, porque estes desvirtuam a realidade e a partir do momento em que se recorre ao pensamento este torna-se uma doença como diz em”pensar é estar doente dos olhos”.
A poesia de Caeiro também é conhecida pelo sensacionismo pois ele utiliza a audição e a visão para observar toda a realidade que o rodeia. Na sua poesia predominam as sensações visuais, como, por exemplo, ”vi como um danado” ou “compreendi isto com os olhos e nunca com o pensamento”.
Alberto Caeiro também era conhecido pelo panteísmo naturalista pois para ele tudo era deus e as coisas eram divinas como por exemplo ”deus é as árvores e as flores e os montes e o luar e o sol…”.
São estes os motivos que me aproximam de Alberto Caeiro.

Reflexões - Alberto Caeiro

Por André Silva

O meu heterónimo de eleição é Alberto Caeiro não só pelos seus magníficos poemas, que demonstram uma grande simplicidade, um grande afecto pela natureza e um forte poder de acalmar quem o lê, mas também pela sua personalidade que se pode conhecer lendo os seus poemas. A personalidade de Caeiro é fascinante pois o modo como vive implica que não pense e apenas tenha sensações, conseguindo assim viver sem angústia.
Pelos aspectos de que já falei é que os outros heterónimos e o próprio ortónimo o tratavam por “Mestre”. Ele era o que tinha a mais verdadeira sensação das coisas, bem essencial, e era um ser livre.

Reflexões - Álvaro de Campos

Por Mariana Pombinho

Álvaro de Campos é o mais excêntrico e entusiasta de todas os “Fernando Pessoa” e é a sua noção da realidade e da civilização que me faz gostar mais dele do que dos restantes. O sujeito poético é, de todos, o mais sensacionista já que experimenta todas as sensações até ao seu limite e relaciona, na sua poesia, estas sensações com os movimentos e os barulhos da fábrica porque era engenheiro industrial. Assim, o poeta acredita que todas estas sensações, resultantes da revolução industrial e da civilização, e consequente desenvolvimento da maquinaria, vão trazer-lhe a felicidade há muito desejada. No entanto, quando percebe que estes novos “acessórios” não lhe concedem a felicidade, cai num abismo de frustração e decepção, pois tudo aquilo que tanto desejou não lhe trouxe o mais importante, a felicidade.
Por outro lado, Álvaro de Campos compara a sua vida adulta com a sua infância, e rapidamente percebe que, na sua infância, quando a tecnologia não estava tão desenvolvida, era mais feliz do que é na idade adulta, pelo que conclui que o desenvolvimento industrial não lhe traz a felicidade que ele tanto deseja.
Assim, este poeta apresenta três importantes fases: o decadentismo, em que o poeta experimenta o tédio e sente falta de experimentar sensações fortes. A esta fase segue-se a experimentação de sensações até ao limite e o delírio com a revolução industrial e, por fim, a fase abúlica em que o sujeito se sente angustiado e decepcionado já que toda a esperança que depositou em encontrar a felicidade foi em vão.
Álvaro de Campos é o heterónimo de que mais gosto porque penso que todos nós passamos pelas fases que são descritas nos seus poemas pois vivemos o dia-a-dia rodeados de tecnologia e queremos sempre adquirir cada vez mais este bens materiais, caindo na ilusão de que eles nos vão tornar mais felizes. No entanto, esta é uma proposição errada, já que a tecnologia pode tornar as nossas acções do quotidiano mais rápidas e mais fáceis de realizar, mas não são essas acções que nos fazem felizes e, por isso, caímos na decepção e percebemos que estas máquinas servem apenas para nos distrair daquilo que é mais importante.

Sugestões de leitura - "O rapaz do pijama às riscas"

O rapaz do pijama às riscas, Jonh Boyne

Por Mariana Correia

Bruno, um pequeno rapaz que vive durante a II Guerra Mundial, vê a sua vida mudar radicalmente quando se muda de Berlim para uma cidade desértica, onde as pessoas são separadas por uma vedação. O seu pai é um comandante nazi e para Bruno isto nada lhe diz até que se encontra com Shmuel, um pequeno judeu. A curiosidade de Bruno vai levá-lo da doce inocência à grande revelação.


Apreciação crítica

Na minha opinião valeu a pena ler esta obra. Gosto bastante de livros que retratem o que de alguma forma o nosso mundo passou. Recomendaria sem dúvida este livro pois retrata uma realidade cruel e recente. É impossível ignorar tudo o que se passou nesta época. Já não vivemos na II Guerra Mundial mas ainda hoje muitas pessoas sofrem de descriminação pelos mais diversos motivos.
Esta obra fez-me reflectir sobre tudo o que aprendi até hoje sobre a II Guerra Mundial, sobre os campos de concentração e sobre tudo o que o Homem é capaz de fazer para atingir os seus ideais. Nesta época, muitas pessoas foram sacrificadas devido ao preconceito, coisa que ainda hoje existe e, por mais que o tempo passe, as pessoas não conseguem ultrapassar sentimentos como estes.

Sugestões de leitura - "Rio das Flores"

Rio das Flores, Miguel Sousa Tavares

Por Nadine Almeida

Diogo Ribeira Flores é um proprietário de terras alentejano que possui a "idade do século" e assiste às transformações políticas que Portugal atravessa entre 1900 e 1945: o fim da Monarquia, a instauração da República e o nascimento do Estado Novo e do salazarismo. Seu pai, Manuel Custódio, é um homem conservador e popular na sua comunidade, defensor de uma "única e segura sabedoria: a da continuidade das coisas e a da imutabilidade das verdades de sempre". Este morre um pouco antes do estabelecimento do Estado Novo, em 1926. A partir daí, os seus dois herdeiros, Diogo e seu irmão mais novo, Pedro, passam a encarnar as angústias, contradições e transformações que o novo regime impõe ao país. Estabelece-se assim, entre os dois irmãos, o conflito mais importante do livro, já que eles representam modos de vida absolutamente opostos: Diogo é um homem educado, cosmopolita, crítico severo do salazarismo e de outros regimes ditatoriais emergentes na Europa e Pedro possui o conhecimento intuitivo e prático de quem sempre viveu da sua terra e é um entusiasta do regime salazarista, defensor dos costumes familiares e de certa ordem social.
Estes dois irmãos possuem muito em comum, principalmente o amor pela terra, mas são amores distintos. Pedro é respeitado por todos, pois trabalha na terra e entende-a como ninguém. É um lavrador e "de certa forma, sentia que, em muitos aspectos, a sua vida se confundia com a vida de tudo o resto que ali vivia, árvores ou animais, como se todos fossem filhos da mesma sementeira". A sua orientação política é uma continuidade desses valores. Diogo, por outro lado, contempla o campo com o espanto e a admiração de um visitante. Sob sua responsabilidade ficam, então, os negócios da família em Lisboa e seu afastamento da fazenda aumenta à medida que a situação política em Portugal lhe parece mais insustentável. Por algum tempo, Diogo acredita que poderia assentar e viver como grande proprietário, mas nem a esposa e nem os filhos o afastam do desejo por outras terras, desejo que culminará numa irredutível fascinação pelo Brasil, para onde sonha partir e fugir do "ar espesso e opressivo de um Portugal amordaçado".
Ao longo do livro existem diversas digressões históricas, onde são detalhados os eventos políticos e sociais mais importantes do país, pelo meio das quais o narrador manifesta algumas opiniões. Apesar de ser aparentemente impessoal (na terceira pessoa), Miguel Sousa Tavares comenta eventos e personagens e critica duramente os caminhos políticos de Portugal, os métodos ditatoriais, a vigilância sobre o cidadão e os líderes que considera ineptos, incluindo o próprio D. Sebastião, o rei lendário, descrito como o "mais imbecil, incompetente e irresponsável governante de toda a história de Portugal".
Este livro finaliza-se com Diogo a seguir a mudança e a deixar a mulher, as terras do clã e o Portugal salazarista para começar vida nova ao lado de uma jovem mulata, Benedita, numa fazenda no Vale do Paraíba, no Brasil, em pleno Estado Novo. Pedro, no entanto, assegura a permanência de sua posição de latifundiário e chega a aderir à União Nacional e a lutar ao lado dos franquistas na Guerra Civil Espanhola.


" Há decisões que se tomam e que se lamentam a vida toda e há decisões que se amarga o resto da vida não ter tomado. ”


Apreciação crítica

Recomendaria esta obra porque o enredo é muito consistente e pouco ingénuo e, assim, prende-nos a atenção. O que mais me atraiu neste livro foi o trajecto histórico que o autor realiza, coexistente aos percursos realizados pelas personagens centrais, os irmãos Diogo e Pedro que protagonizavam pólos totalmente opostos no seio familiar, pelas várias ditaduras que se estabeleceram na primeira metade do século XX: a de Salazar em Portugal, Hitler na Alemanha, Getúlio no Brasil e Franco na Espanha. No entanto, também gostei do perfil que traça Salazar, um líder tacanho, mesquinho, fechado em si e ao mundo, ambíguo, gerando um país sem horizontes nem ambições; das vívidas descrições de cenas da guerra civil em Espanha, bem como de algumas curiosidades como a primeira travessia do Atlântico por um dirigível, o Hindenburg, que levou Diogo da Alemanha ao Rio de Janeiro. É um romance com um óptimo conteúdo histórico e bastante didáctico, no entanto, por vezes, pareceu-me que se alongou um pouco nas descrições dos factos históricos. De qualquer das formas, penso que esse facto não é relevante para que o livro perca o seu interesse pois este encontra-se muito bem escrito e o resultado final é bastante bom. Aconselho.


Esta obra fez-me reflectir sobre a liberdade e a alternância política e as suas diferentes ideologias pois Rio das Flores é um mergulho no momento histórico de um mundo marcado pela emergência de regimes autoritários, como, por exemplo, a ditadura salazarista. Assim, o autor faz duras críticas contra todas as formas de atentado à liberdade e fala sobre algumas vidas que se desenvolveram num tempo trágico ainda próximo de nós, mas felizmente cada vez mais distante do nosso próprio tempo. Fico feliz por sermos, hoje em dia, um estado democrático apesar de não funcionarmos da melhor forma.

Sugestões de leitura - "Tudo por amor"

Tudo por amor, Jodi Picoult

Por Cátia Fernandes

Nina acusa pedófilos todos os dias e luta para que um sistema legal com demasiadas lacunas mantenha os criminosos atrás das grades, pensando que assim eles nunca iriam molestar sua família. Mas um dia, o seu filho de 5 anos, Nathaniel, deixa de falar. Nina e o marido Caleb apercebem-se de que algo está errado e decidem levá-lo a um psiquiatra que “descobre” que Nathaniel foi violado.
Após descobrirem isto, sucedem-se inúmeros acontecimentos que nunca nenhum dos dois sonhara. Após terem feito uma análise ao sangue do padre Szyszynski, Glen para as crianças, e se verificar que o sangue correspondia ao sémen encontrado nas cuecas de Nathaniel, Nina e Caleb apresentam queixa formal contra o padre Glen, mas Nina acaba por matá-lo. Nina é presa mas acaba por sair sob caução; quando sai da prisão, descobre que o padre tinha leucemia mielóide crónica e que recebeu uma transfusão de sangue – o violador era o doador e não o padre Glen. Posto isto, descobrem que quem abusou de Nathaniel foi o padre Gwynne, meio-irmão do padre Glen, que se encontrava no Luisiana; Nina quer ir até lá mas é alertada pelo marido que não o pode fazer pois encontra-se em prisão domiciliária e tem uma pulseira electrónica, podendo passar o resto da vida na prisão, longe do filho.
Nina vai a tribunal para ser decidida a sua sentença e no intervalo recebe a notícia de que o padre Gwynne foi encontrado morto nos seus aposentos, supostamente de ataque cardíaco. O juiz acaba por conceder a liberdade a Nina, que descobre que foi Caleb quem matou o padre Gwynne.

Cada livro é um livro e vale sempre a pena lê-lo, mais que não seja para aprendermos algo novo; e este livro não tem só uma história fascinante, como também possui conhecimentos de outras áreas como a biologia, algo que me cativa. A meu ver, penso que toda a gente o deveria ler.


Por vezes abdicamos de estar perto de quem mais gostamos, por vezes o que pensamos ser a opção mais correcta não o é... Este livro faz-nos pensar no que é que os pais são capazes de fazer por amor a um filho, para que ele esteja em segurança.

Sugestões de leitura - "Tudo por amor"

Tudo por amor, Jodi Picoult

Por Cátia Fernandes

Nina acusa pedófilos todos os dias e luta para que um sistema legal com demasiadas lacunas mantenha os criminosos atrás das grades, pensando que assim eles nunca iriam molestar sua família. Mas um dia, o seu filho de 5 anos, Nathaniel, deixa de falar. Nina e o marido Caleb apercebem-se de que algo está errado e decidem levá-lo a um psiquiatra que “descobre” que Nathaniel foi violado.
Após descobrirem isto, sucedem-se inúmeros acontecimentos que nunca nenhum dos dois sonhara. Após terem feito uma análise ao sangue do padre Szyszynski, Glen para as crianças, e se verificar que o sangue correspondia ao sémen encontrado nas cuecas de Nathaniel, Nina e Caleb apresentam queixa formal contra o padre Glen, mas Nina acaba por matá-lo. Nina é presa mas acaba por sair sob caução; quando sai da prisão, descobre que o padre tinha leucemia mielóide crónica e que recebeu uma transfusão de sangue – o violador era o doador e não o padre Glen. Posto isto, descobrem que quem abusou de Nathaniel foi o padre Gwynne, meio-irmão do padre Glen, que se encontrava no Luisiana; Nina quer ir até lá mas é alertada pelo marido que não o pode fazer pois encontra-se em prisão domiciliária e tem uma pulseira electrónica, podendo passar o resto da vida na prisão, longe do filho.
Nina vai a tribunal para ser decidida a sua sentença e no intervalo recebe a notícia de que o padre Gwynne foi encontrado morto nos seus aposentos, supostamente de ataque cardíaco. O juiz acaba por conceder a liberdade a Nina, que descobre que foi Caleb quem matou o padre Gwynne.


Cada livro é um livro e vale sempre a pena lê-lo, mais que não seja para aprendermos algo novo; e este livro não tem só uma história fascinante, como também possui conhecimentos de outras áreas como a biologia, algo que me cativa. A meu ver, penso que toda a gente o deveria ler.



Por vezes abdicamos de estar perto de quem mais gostamos; por vezes o que pensamos ser a opção mais correcta não o é, e essa decisão pode trazer algumas privações. Mas este livro faz-nos pensar no que é que os pais são capazes de fazer por amor a um filho, para que ele esteja em segurança.

Sugestões de leitura - "Para a minha irmã"

Para a minha irmã, Jodi Picoult

Por Andreia Dias

Esta é uma obra que recomendaria porque, por exemplo, o seu vocabulário acessível permite ao leitor efectuar uma leitura mais fácil e prolongada. Também a ausência de narrador, sendo as próprias personagens, na primeira pessoa, a apresentarem as situações, os seus pontos de vista, as suas opiniões e os seus sentimentos, permite ao leitor a aproximação à história, passando mesmo a sentir e a partilhar as emoções. Esta aproximação proporciona ao leitor momentos extremamente emotivos, principalmente pela história que é relatada, já que aborda um tema muito actual e que emocionalmente é muito forte: o cancro.
O desenrolar da história, que apresenta as diversas adversidades que a família Fitzgerald teve de ultrapassar, acaba por se tornar fascinante sendo difícil de abandonar o acto de leitura.
O final da obra sendo surpreendente e inesperado, destaca-se por ser diferente das histórias vulgares, por não ser particularmente feliz. Contudo, considero que este desfecho atingiu o ponto que o leitor precisava, tornando a obra especial e acabando por marcar a luta e o sofrimento que o leitor viveu junto desta família.
Este livro acaba por demonstrar ao leitor a dura realidade com que muitas famílias se deparam e que até algum dia qualquer um de nós poderá ter de ultrapassar, onde o assunto central é o medo e a morte. Por isso, acaba por se tornar interessante, transmitindo ao leitor muitas lições de vida.

Esta obra aborda questões éticas e morais muito delicadas, assim como caracteriza devidamente os comportamentos humanos. Estes factores conjugados acabam por despertar no leitor um antagonismo de sentimentos, devido ao constante conflito de interesses.
Este foi um livro que me agradou pelo facto de apresentar situações complexas e com uma extrema gravidade que me fizeram reflectir sobre várias situações e circunstâncias que se impõem na nossa vida, nomeadamente a impotência do Homem face ao destino, sendo este um dos assuntos que me incomodou e que me sensibilizou.
Será justo, aos dois anos de idade, uma criança ser confrontada com o tipo mais perigoso e fulminante de leucemia?
O cancro não será sinónimo de morte, mas nesta história implicou a perda de vida por parte dos familiares e da própria criança, embora não fosse uma morte física. A idade de ouro e da inocência de Kate foi passada em hospitais e de mãos dadas com a preocupação e o medo do dia de amanhã, o que me chamou à atenção devido à fragilidade da nossa condição de seres humanos.
Por outro lado, deu-me uma perspectiva diferente desta doença. Esta criança foi crescendo e lidando com o infortúnio que lhe aconteceu de um modo saudável, aceitando o seu destino. Demonstrou sempre ser uma criança forte, conseguindo ultrapassar situações inimagináveis para a sua tenra idade, chegando ela mesmo a apoiar a família.
Assim, nesta obra foi bem visível o quão importante é o papel da família em qualquer situação mas principalmente nas situações mais dolorosas.
Os organismos geneticamente modificados foi outro dos assuntos abordados nesta obra que me fez reflectir acerca da sua viabilidade. Nesta história, uma mãe por amor à sua filha e com vontade de lutar pela sua sobrevivência decide ter uma outra filha geneticamente programada para que fosse totalmente compatível com Kate.
Porém, será justo uma criança nascer com o objectivo de doar as suas células, tecidos e mesmo órgãos sem o seu consentimento, tendo de passar por tratamentos invasivos que poderiam alterar o seu nível de vida?
Este é um livro sobre escolhas difíceis e muitas dúvidas, um livro que nos mostra vários caminhos e por isso nos dificulta o percurso. Por isso, ao longo da história senti-me incapaz de tomar partido por alguma das partes, visto que os pais agiram conforme acharam correcto perante a situação delicada da sua filha mais velha, e, principalmente, agiram desta forma porque a amavam e lutavam pela sua sobrevivência, sendo impossível conseguirem em simultâneo a estabilidade física e emocional de ambas as suas filhas.
Todavia, na opinião de Anna, esta teria o total direito sobre o seu corpo, pelo que aos 13 anos coloca um processo legal contra os seus pais a fim de adquirir a emancipação médica. Porém, como saberá uma criança o que será justo?
Desta forma, neste livro também é retratado o sentimento de justiça que acaba por deixar o leitor dividido entre a sobrevivência de uma criança e o decréscimo do nível de vida de outra.
Como será possível uma mãe conseguir optar de consciência tranquila por uma das suas duas filhas? Deste modo, com os leitores indecisos, acho que ninguém terá coragem de criticar qualquer acção que aquela mãe tenha cometido já que agiu sempre verdadeiramente com o coração.
Assim, considero que este livro levantou questões que diariamente não são discutidas nem sequer pensadas. Como tal, exige uma reflexão acerca do tema e conduz a conclusões variadas conforme a opinião do leitor relativamente à posição dos intervenientes na história.

Sugestões de leitura - "Para a Minha Irmã"

Para a Minha Irmã, Jodi Picoult


Por Marta Catarino

Os Fitzgerald eram um casal feliz, como tantos outros, e tinham dois filhos, Jesse e Kate. Quando Kate tinha dois anos de idade, foi-lhe diagnosticado um cancro,uma leucemia rara. Para a salvar, os seus pais decidiram ter outro bebé, Anna, geneticamente programado para ser um dador perfeitamente compatível com Kate, de modo a utilizar as células do cordão umbilical. No entanto, como este tratamento não foi suficiente, desde o nascimento até à adolescência, Anna sofreu vários tratamentos médicos, invasivos e perigosos, a fim de fornecer sangue, medula óssea e outros tecidos para salvar a vida da irmã mais velha.
Toda a família sofre muito com a doença de Kate. Agora, ela precisa de um rim e Anna, com treze anos, resolve instaurar um processo legal, contratando um advogado, para requerer a emancipação médica, ou seja, ela quer ter direito a tomar decisões sobre o seu próprio corpo. Sara, a mãe, foi advogada e, portanto, decidiu representar-se a si própria, o marido e a filha doente neste julgamento.
Em Para a Minha Irmã surgem algumas questões com um elevado grau de complexidade, tais como: A Anna tem obrigação de arriscar a própria vida para salvar a irmã? Os pais têm o direito de tomar decisões quanto ao papel de dadora de Anna? O final da história é totalmente inesperado e surpreendente.
Este livro é uma narrativa em que as próprias personagens são os narradores de modo a que o leitor pode "escutar" as vozes dos diferentes membros da família, assim como de outras figuras de alguma importância na história.


Apreciação crítica


Ao longo de toda a narrativa surgem inúmeras expressões que marcam profundamente, sendo quase impossível controlar as nossas próprias emoções. E, sem dúvida, são as falas da Anna, a personagem mais nova, e o último capítulo expresso por Kate, a personagem doente, que contêm as citações que mais me marcaram e emocionaram. Como já enunciei, há muitas, por isso é difícil escolher dentro de um leque tão extenso, mas passo a referir duas delas:

"Quando era pequena, para mim o grande mistério não era como se faziam os bebés, mas porquê." (Anna)
"Penso no seu rim a trabalhar dentro de mim e no seu sangue a correr nas minhas veias. Eu levo-a comigo, para onde quer que vá." (Kate)

Um excerto de um diálogo entre Anna e Kate durante o transplante de medula óssea:
"O Dr. Chance está ao lado do suporte intravenoso, a segurar no saco de medula. Volto a Anna para que ela consiga vê-lo.
- Aquilo - digo-lhe eu - foi o que nos deste.
(...)
- Doeu-te? - pergunta a Kate.
- Mais ou menos. - (...) - E isso?
- Nem por isso. - Ela senta-se um pouco. - Olha, Anna?
- Sim?
- Ainda bem que veio de ti. - A Kate agarra na mão da Anna e coloca-a mesmo abaixo do cateter venoso central, um sítio que fica precariamente perto do seu coração."


Relativamente à obra que estou aqui a apresentar, não tenho nenhum aspecto negativo a referir. Posso afirmar, com completa sinceridade, que "Para a minha irmã" é o livro que mais apreciei ler de todos os outros que já li. Conforme a leitura ia evoluindo, eu cada vez me interiorizava mais na história.
"Para a minha irmã" de Jodi Picoult é o único livro desta escritora que li até ao momento, mas, sem dúvida, que pretendo ler mais, pois, segundo este livro, Jodi tem uma escrita simples, suave e fluente; os seus textos são muito bem estruturados e criativos; ela, com as palavras que escreve, tem a capacidade de nos prender de tal forma à história que quando acaba dá vontade de voltar ao início. Para além disto, considero que o facto dela usar as próprias personagens como narradores dá muito mais vida ao romance. Jodi Picoult tem uma maneira própria de escrever, uma forma fora do comum.
Dirigindo-me mais especificamente à história relatada pelo livro considerado, eu acho que todas as personagens (os pais, os três filhos, o advogado e a tutora ad litem) são especiais e têm a sua própria história, indo todas elas ao encontro da principal. Este livro não se fixa apenas na situação principal mas sim em várias outras, o que contribui para o facto de não ser, em nenhum momento, maçador. Para além de o livro ter passagens muito bonitas, contém algumas que são fortes no sentido que mexem bastante com as nossas emoções, mas para mim é um dos motivos pelos quais fiquei tão “agarrada”. O final é realmente estranho, o que nos leva a ficar, durante momentos, em estado de choque.
Concluindo, para quem gosta e aprecia histórias que tratam de casos de vida, que sejam sensíveis e que tenham um elevado grau de suspense, recomendo e aconselho vivamente a leitura do livro "Para a minha irmã".

Uma frase que exprime bem o que se pode esperar deste livro é:
"Picoult escreve com um toque de elegância, um olhar penetrante em relação aos pormenores e uma compreensão abrangente da delicadeza e da complexidade das relações humanas."
The Boston Globe


Esta obra fez-me reflectir sobre o papel de uma mãe (e de um pai também) no seio de uma família diferente e pensar, muito, sobre o certo e o errado. Será que qualquer pessoa usava um dos seus filhos para salvar outro que se encontra desesperadamente doente? Após a leitura deste livro, o pensamento que me surge perante esta questão é exactamente se uma mãe que fizesse tal, estaria a ser uma boa ou péssima mãe. Na minha opinião, é impossível imaginar o sofrimento e o desespero de uns pais perante uma situação delicada como a que é relatada no livro, logo, acho que não é correcto julgar quem tem de tomar decisões como as que aparecem ao longo do livro. Tenho ainda a enunciar que a personagem que mais me faz reflectir sobre o que é justo ou não, é, obviamente, a Anna, a qual, a meu ver, é quem sofre mais com tudo isto. Por fim, a conclusão a que eu chego é que o destino destas duas irmãs era que uma delas tinha de morrer para a outra conseguir ter uma vida, relativamente, normal.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Sugestões de leitura - "Mil Novecentos e Oitenta e Quatro"

Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, George Orwell

Por Inês Sousa

Winston Smith vive na Pista 1, anteriormente chamada de Inglaterra, no ano de 1984 (segundo as suas próprias contas, pois não há certezas do ano em que se vive). A Pista 1 faz parte da Oceânia, um superpaís composto pelas antigas América, Inglaterra, Sul de África e Austrália, dominado por um regime totalitário governado pelo Grande Irmão, cuja figura está em todo o lado, literalmente, a “ver” todos os habitantes. Winston trabalha no Ministério da Verdade e a sua função é reescrever e alterar dados de acordo com o interesse do Partido, transformando a mentira em verdade e a verdade em mentira. No entanto, Winston está secretamente revoltado contra o regime, e apesar de ser vigiado 24 horas por dia pelo telecrã (uma tela que permite ver e ser visto, e que está presente em todos os lares) e de saber que vai muito provavelmente ser “vaporizado” pelo Partido, começa a escrever às escondidas um diário, actividade ilegal.
O Partido asfixia os cidadãos, servindo-se da novilíngua, linguagem cujo objectivo é “apagar” a mente das pessoas de modo a que percam o poder de pensamento próprio; do “duplopensar” (quando algo pode ser verdade e mentira ao mesmo tempo) ou da Polícia do Pensamento, que tem como função detectar quando alguém comete “crimideia” (um pensamento contra o regime, logo ilegal) e levá-lo para o Quarto 101, onde os “criminosos” são confrontados com as suas fobias. Em suma, o Partido tem controlo total sobre a mente dos cidadãos, e Winston descobre que a revolta é fomentada pelo próprio Partido.


Valeu a pena ler esta obra porque apesar de ter sido escrita há mais de 60 anos, continua actual. “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro” chega a ser assustador; apesar de, felizmente, retratar algo que nunca aconteceu, e de ter sido inspirado pelo regime comunista Soviético, já desaparecido, é impossível não compararmos certos pormenores com a realidade política de hoje. Orwell escreve com uma mestria que nos faz precisar de parar de ler de vez em quando para podermos respirar fundo, como se estivéssemos a viver o pesadelo asfixiante descrito na obra; e é extraordinário como conseguiu prever tão genialmente o futuro, relativamente às novas tecnologias e ao controlo que exercem sobre nós. Ficamos com a impressão que Orwell escreveu “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro” enquanto olhava por uma janela para o futuro, apesar de o objectivo ter sido criticar o passado…

Esta obra fez-me reflectir sobre o poder que a prole pode ter sobre um governo, e ao mesmo tempo, a facilidade com que pode ser enganada e controlada. Afinal, Orwell descreve o papel vazio do diário e a caneta como algo saudável, inofensivo, até belo, representando a liberdade e o pensamento próprio, e a tecnologia como algo malévolo que nos controla e vigia, uma ferramenta para sermos enganados e usados por algo superior. Apesar de soar a “teoria da conspiração”, penso que seria uma boa ideia mantermo-nos atentos ao que nos rodeia; o que num momento parece inofensivo pode revelar-se uma ferramenta poderosa de controlo. Quando escreveu este livro, Orwell criou uma sociedade terrível, e, 60 anos depois, apercebemo-nos que o que era apenas uma história tornou-se em parte realidade: a “era dos telecrãs” já esteve bem mais longe do que está hoje, e o “duplopensar” já engana os mais distraídos ou inocentes…

Sugestões de leitura - "No Teu Deserto"

"No Teu Deserto", Miguel Sousa Tavares

Por Mariana Heitor

No Teu Deserto é um livro de homenagem a uma pessoa conhecida em situações especiais e ao deserto. É um livro de nostalgia, em relação a essa pessoa (de quem perdeu o contacto), e ao deserto, com o qual se desencantou, já que, vinte anos depois, a aventura que era ir ao Sahara transformou-se numa simples viagem turística quase sem risco.
Neste “quase romance” de Miguel Sousa Tavares, assistimos à descrição de uma viagem feita em Novembro de 1987 pelo próprio Miguel S. Tavares ao deserto do Sahara num jipe, na companhia de uma jovem – Cláudia – que só conheceu uns dias antes da partida. O escritor relembra uma travessia pelo deserto feita com esta mulher, quinze anos mais nova que ele. Durante quarenta dias, Miguel S. Tavares e Cláudia atravessaram as paisagens áridas do continente africano e viveram uma experiência marcante, que se vai projectar por muito tempo na vida de ambos. Eles partem de Lisboa num jipe abastecido de comida enlatada, algumas bebidas alcoólicas, uma bússola e um mapa militar dos anos 50. Acompanhamos a evolução da relação de dois quase desconhecidos (unidos pelo desejo de conhecer o deserto) e de como se adaptam um ou outro quando envolvidos num mundo quase desconhecido para ambos. Os restantes membros da excursão (mais uma dezena de jipes) vão por Marrocos, mas o casal entra no continente africano pela Argélia, pois dependem de uma licença de filmagem expedida em Argel. A princípio marcada pela distância, a relação entre os dois aventureiros intensifica-se ao longo da viagem na luta contra o tempo, no enfrentamento da burocracia e da corrupção argelina, na confusão das cidades africanas e no dia-a-dia de acampamento e improvisos. A intimidade avança para um sentimento amoroso, que nasce da cumplicidade naquela situação adversa: solidão, viagem, silêncio, paisagens inóspitas, etc.
Vinte anos depois, Miguel Sousa Tavares descobre ocasionalmente que Cláudia tinha falecido e decide contar a história desse amor para, de alguma forma, reter a felicidade desse encontro na memória. O romance é um acerto de contas emocionado do escritor – narrador para com a memória de Cláudia, de quem ele guarda poucas fotografias, mas numerosas e intensas lembranças.
No Teu Deserto, é assim um tributo a uma viagem, a uma pessoa e a um deserto nunca esquecido.

Apreciação Crítica

Sem qualquer dúvida, é um livro bastante interessante e com um registo de escrita, na minha opinião, muito bom e muito perceptível. Claro que, num livro de estilo “quase romance”, haverá sempre algumas coisas que ficam por dizer, mas, no entanto, é isso que o torna numa história imaginável e mais criativa, pois cada leitor interpreta à sua maneira o que está a ler. Penso que, ainda assim, No Teu Deserto é um livro que contém muitos pormenores essenciais à compreensão do texto e que o escritor os relatou sem tornar o livro demasiado descritivo e enfadonho. Também gostei do facto de ter conseguido criar na minha cabeça uma personagem que me parecia uma pessoa real, como a imagem da Cláudia, e ter conseguido, à medida que ia lendo o livro, criar, constantemente, situações e cenários de acordo com o contexto.
A meu ver, a história deste livro é fabulosa, e o que mais me cativou, ao começar a lê-la, foi o facto de esta ser uma história verídica, que aconteceu e que o escritor vivenciou. Trata-se, então, de uma espécie de carta de despedida que não foi possível escrever enquanto Cláudia esteve presente. É uma homenagem, um agradecimento. Neste contexto, Miguel Sousa Tavares focalizou em particular capítulos narrados pelo outro lado, ou seja, por Cláudia, o que eu achei curioso e ao mesmo tempo pertinente, pois esses pequenos diálogos entre ambos facilitavam imenso a compreensão contextual do espaço e das emoções vividas.
Para mim, um bom livro é aquele que nos transporta para outra dimensão, para outro lugar – e este transporta-nos. Este, é um livro de uma viagem e o melhor livro de viagens é aquele que nos leva na viagem – e este leva-nos. Que faz emocionar, quando é para emocionar. E faz que rir quando é para rir. Este é, na minha opinião, um livro cheio de emoções e sentimentos que se vão despertando à medida que se vai lendo o livro.
Recomendaria esta obra pois a escrita é acessível a todos e é muito simples, mas o mais hilariante é o romance, é a história em si, o modo como tudo é transparecido para quem está a ler. Conseguimos, nesta obra, compreender cada palavra, cada gesto ou cada olhar.
Posso afirmar que este foi, sem dúvida, o melhor livro que já li até hoje.


Este livro fez-me reflectir sobre a importância que as pessoas têm nas nossas vidas e o quanto lhes devemos dar o devido valor enquanto estão presentes e ao nosso lado, pois quando reflectimos e damos conta que errámos num determinado momento, pode já ser tarde demais para o arrependimento.
Quanto mais vivemos, mais nos apercebemos que as pessoas entram na nossa vida e convivem connosco durante um determinado tempo. Algumas permanecem para sempre e outras, simplesmente, desaparecem sem deixar rasto. Foi o que se passou com o escritor nesta obra. Foi no meio de uma conversa, quando alguém lhe perguntou se a morte de Cláudia o tinha abalado (emocionalmente) que este tomou conhecimento da morte da sua companheira de viagem. Como não sabia do trágico incidente, ficou chocado.Abriu uma janela porque precisava de ar, sentia-se sufocar e tinha vontade de gritar. Mas não o fez, ficou calmo, quieto e incrédulo.
A primeira reacção de alguém quando recebe uma má notícia sobre uma pessoa que lhe é muito próxima, é a negação dessa verdade, é a recusa de um facto inalterável pelo tempo, mas que não se aceita por factores emocionais. Nestes casos, põe-se a racionalidade de lado e o coração comanda os nossos pensamentos. Passo a citar: “Vinte anos.”, ”Só ontem é que percebi que tinhas morrido.”
O que é certo é que quando as pessoas partem (morrem), só nos restam boas ou más recordações, nada mais que isso, meras recordações.
Esta obra foi uma grande homenagem a ” Cláudia ” que de certo teria adorado saber o quanto foi importante para ele tê-la conhecido e ter podido viver momentos de amizade e cumplicidade com ela.
Isto mostra que não importa a distância a que estamos das pessoas e o tempo que passou pois a sua importância na nossa vida aproxima-nos ou distancia-nos consoante o que realmente queremos e sentimos em relação e elas.

Citações do livro

“Esta história que vos vou contar passou-se há vinte anos. Passou-se comigo há vinte anos e muitas vezes pensei nela, sem nunca a contar a ninguém, guardando-a para mim, para nós, que a vivemos. Talvez tivesse medo de estragar a lembrança desses longínquos dias, medo de mover, para melhor expor as coisas, essa fina camada de pó onde repousa, apenas adormecida, a memória dos dias felizes” (pág.11)

“Foi então que eu te tirei a tal fotografia, rodeada de miúdos e sentada no chão, uma criança entre crianças, e, ainda que tantas fotografias felizes mintam, como bem sabemos, ainda que as fotografias consigam suspender a felicidade como se ela fosse eterna, aí tu ficaste para sempre – feliz, suspensa e eterna – tal qual como nesse instante. E é, hoje ainda, a imagem mais forte, mais verdadeira, que tenho de ti. Não saias nunca desta fotografia, Cláudia! Não saias – tu, não.” (pág. 117)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Reflexões - Fernando Pessoa

Por João Gomes

Fernando Pessoa, sim. Ortónimo? Alberto Caeiro? Ricardo Reis? Álvaro de Campos? Talvez, ortónimo. Considero que tenho algumas características de todos eles, sim, mas… aquele com que mais me identifico é o ortónimo, talvez por já ter “aprendido a pensar”, infelizmente.
Aprendi a pensar; aprendi a, por vezes, não ser eu; aprendi a criar novos “eu’s”; aprendi a fingir. Vendo bem, Pessoa usava a escrita para se expressar e poder entrar no reino do faz de conta, criando e usando os seus heterónimos a seu belo prazer e sendo “plural como o Universo”. Mas … e nós? Será que estamos assim tão longe de um certo tipo de fingimento? Não. Será que existe alguém consciente que nunca tenha fingido? Com certeza que já fingiu não ser ele, não sentir o que sente, não ser o que é. Todos nós fingimos; ou porque sim, ou porque não, ou porque nos obrigam, ou porque nos sentimos obrigados a isso, ou porque somos demasiado orgulhosos e não pretendemos mostrar a nossa fragilidade em algumas situações, ou porque vamos ao Senhor Doutor e fingimos estar bem para evitar a toma de medicamentos, ou porque a polícia nos manda parar e fingimos ter a mulher em trabalho de parto, ou porque os pais entram no quarto e nós dizemos estar bem, ao mesmo tempo que limpamos as lágrimas, ou porque estamos tristes e aparentamos mostrar o quão feliz somos. Pelo menos, eu finjo.
Uma outra particularidade característica do ortónimo, e que me diz algum respeito, é a enorme e penosa distância entre aquilo que é idealizado e o concretizado; e as consequências que isso acarreta. “Tudo o que faço ou medito fica sempre na metade.” Será que vale a pena sonhar? A maioria dos sonhos não passam de isso mesmo: de pura ilusão. E depois? E a mágoa que nos corrói quando nos apercebemos que, afinal, não conseguimos chegar onde queríamos, não conseguimos ser o que pretendíamos. Será sonhar recompensa suficiente à frustração que está ligada à realidade?
Uma última pergunta. Serei eu alguém tão alienado para estar sozinho, neste Mundo? Para fingir o que não sou ou para não querer sonhar e contentar-me com a realidade? Sei que Fernando Pessoa me compreenderia.

Reflexões - Ricardo Reis

Por Fábio Santos

De todos os heterónimos, aquele que mais gostei de estudar foi Ricardo Reis. Ricardo Reis é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com serenidade, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. Este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende o prazer do momento, o carpe diem, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Assim, procura a serenidade livre de afectos e de tudo o que possa perturbar o seu espírito. Há no seu pensamento uma atitude de luta contra tudo o que lhe tire o sossego. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, ou seja, a ataraxia (a tranquilidade sem qualquer perturbação). Sente que tem de viver em conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao desprazer, numa verdadeira ilusão da felicidade, conseguida pelo esforço estóico lúcido e disciplinado. Pessoa afirma que os próprios deuses “sobre quem pesa o fado” não têm a calma, a liberdade e a felicidade. Pessoa escreveu: “pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental”. Reis vive conforme a Natureza, liberto das paixões, indiferente às circunstâncias e aceitando voluntariamente o destino da vida. Apesar de Reis ficar angustiado com a efemeridade da vida, este aceita o seu destino pois considera ser essa a melhor forma de ser feliz. Será importante pensar e repensar em tudo aquilo que de menos bom nos acontece? Tudo passa, nada fica. Saber aceitar as circunstâncias da vida permite-nos encontrar o caminho da felicidade. É no poeta Ricardo Reis que é possível encontrar uma maneira de viver a vida sem muito sofrimento. Segundo este poeta, tudo deve ser aceite com calma e tranquilidade. Não seria útil pensarmos da mesma maneira que Ricardo Reis? Penso que sim, aceitar o que nos aparece pelo caminho e tentar superar todos os obstáculos faz-nos crescer enquanto seres humanos.

Reflexões - Fernando Pessoa

Por Marta Catarino


A obra de Fernando Pessoa, na minha opinião, é muito enriquecedora e completa. Nela podemos encontrar poesia de diversos estilos, cada um deles proporcionado por um poeta diferente. O facto do conjunto de poetas presentes na obra de Fernando Pessoa serem resultado da vasta imaginação, criatividade e intelectualização deste prestigiado poeta atribui um brilho especial à sua poesia. A sua capacidade de criar poetas com estilos e atitudes tão distintas umas das outras é de louvar e, como tal, para mim, todos os heterónimos de Pessoa, como Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, transmitem algo de fascinante. No entanto, aquele cujos poemas mais me agradam, aquele que consegue despertar, com mais frequência, a minha atenção é Fernando Pessoa - Ortónimo.
A poesia de Fernando Pessoa - Ortónimo utiliza um estilo e uma linguagem muito simples, recorrendo ao uso do verso tradicional, rimado e musical, características que, a meu ver, facilitam a compreensão do poema e são essenciais para cativar rapidamente os leitores. Como exemplo, podemos pegar no poema "Gato que brincas na rua", em que a primeira estrofe é "Gato que brincas na rua/Como se fosse na cama,/Invejo a sorte que é tua/Porque nem sorte se chama.". Como se verifica através da leitura, este poema utiliza o verso tradicional, rimado e musical, nunca perdendo o sentido.
Fernando Pessoa - Ortónimo escreve sobre temas diversificados, não se fixando apenas num estilo, sendo a maior parte deles temas que mexem com o lado emocional e sentimental dos leitores. Por exemplo, podemos ler poemas dele acerca do fingimento artístico, da nostalgia da infância, do refúgio no sonho, da dor de pensar.
Concluindo, eu considero a poesia de Fernando Pessoa - Ortónimo mais inteira e completa relativamente à dos outros heterónimos visto que nela estão presentes uma série de sensações, as quais são reais e sentidas, sendo todas elas expressas com leveza e suavidade.

Reflexões - Fernando Pessoa

Por Andreia Dinis

Perante a questão “Com qual dos heterónimos de Fernando Pessoa me identifico mais?”, a resposta deveria ser mais simples, já que são três as hipóteses de escolha e, por sinal, diferindo bastante umas das outras, ainda que não o suficiente para facilitar a minha decisão.
Na verdade, de Alberto Caeiro, o guardador de rebanhos, herdei o facto de privilegiar as sensações, pois quem será capaz de negar o quão belo é podermos ouvir e ver o mar? Contudo, este meu privilégio nunca chegará à defesa do sensacionismo. Por outro lado, não seria capaz de rejeitar o pensamento e o raciocínio, como faz o mestre, pois sem estes seria impedida de realizar diversas actividades.
Já com Ricardo Reis as coisas não se tornam mais simples… A nossa vida poderá ser momentaneamente tranquila, mas, como é que poderíamos desfrutar a vida sem emoções?
Relativamente a Álvaro de Campos, não me poderei queixar da excessiva calma, pois, pelo contrário, este defende o excesso de sensações e a euforia. Mas, por oposição, surge uma nova fase, demasiado melancólica e pessimista, onde este exprime o tédio, a frustração, a dor de ser lúcido e a solidão. Esta será uma fase que não se enquadrará numa juventude que se quer alegre e divertida, mas consciente.
Assim, só me resta dizer-vos que não me revejo em nenhum deles mas, no fim, todos eles estão presentes em mim, nem que seja somente em momentos pontuais.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Reflexões - Álvaro de Campos

Por Sara Ribeiro

De toda a escrita produzida por Fernando Pessoa, os versos que mais me cativaram foram sem dúvida alguma os do seu heterónimo Álvaro de Campos.
A sua escrita futurista e emotiva leva-nos a “sentir” o poema, a sua força, o seu excesso, a sua violência, e muitas outras emoções que deseja transmitir.
Para atingir este objectivo, o poeta não segue os padrões poéticos da época, optando antes pela ruptura com o tradicional (lírica), recorrendo principalmente às pontuações exclamativas e interjectivas, às personificações e até às metáforas ousadas, no sentido de transmitir tudo o que sentiu e pensou aquando da escrita dos seus versos. Todos estes parâmetros tornam a sua escrita dinâmica e inconfundível, livre e longa, destacando-se assim dos demais heterónimos de Pessoa.
Esta expressividade na escrita de Álvaro de Campos é o que mais me “encanta”, visto que mesmo nas fases em que este se mostra mais solitário, triste, descontente, como que numa certa abulia para com a sociedade, a evolução e a sua própria existência, escreve e apresenta versos carregados de sensações, de fúrias e dores, dúvidas e solidão, mas nunca deixando de nos surpreender.
Nestes versos solitários chega até a ser comparado com o ortónimo Pessoa, o que o torna ainda mais interessante, visto que de certa forma este se encontro mais conectado e possuiu mais características em comum com o seu “criador”.
Por todos estes motivos considero Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa com a sua escrita livre e “sem papas na língua”, uma escrita com o objectivo de transmitir sensações, tanto alegres, como tristes, tanto eufóricas como monótonas, o heterónimo que, de um ponto de vista poético, fascina e incute a vontade de ler cada um dos seus versos.

Reflexões - Fernando Pessoa ortónimo

Por Mariana Baptista


Fernando Pessoa conta e desabafa a insatisfação da alma humana - a sua precariedade, a sua limitação, a dor de pensar, a ânsia de se ultrapassar, a tristeza, a dor da alma humana que se sente incapaz de construir. As fugas que encontra são o sonho, a evasão pela viagem, o refúgio na infância, a crença num mundo ideal e oculto, situado no passado, a aventura do Sebastianismo messiânico, o estoicismo de Ricardo Reis, entre muitos outros. Todas estas fugas são tentativas frustradas porque o mal é a própria natureza humana e o tempo a sua condição fatal. É uma poesia cheia de desesperos e de entusiasmos, de náusea, tédios e angústias iluminados por uma inteligência lúcida – febre de absoluto e insatisfação do relativo.
Muitos dos temas subentendidos nos seus poemas, como a identidade perdida (“Quem me dirá sou?”) e incapacidade de auto-definição (“Gato que brincas na rua (...)/ Todo o nada que és é teu./ Eu vejo-me e estou sem mim./ Conhece-me e não sou eu.”), fazem-nos ter consciência do absurdo da existência, que ele próprio sente. Gostei, principalmente, de interpretar as temáticas do anti-sentimentalismo: a intelectualização da emoção (“Eu simplesmente sinto/ Com a imaginação. / Não uso o coração.” – poema Isto) e a inquietação metafísica, a dor de viver.
Pessoa parte de uma percepção da realidade exterior para uma atitude reflexiva (constrói uma analogia entre as duas realidades transmitidas: a visão do mundo exterior é fabricada em função do sentimento interior), e é como se ele ensinasse o seu próprio pensamento a sentir.
A vida é sentida como uma cadeia de instantes que uns aos outros se vão sucedendo, sem qualquer relação entre eles, provocando no poeta o sentimento da fragmentação e da falta de identidade. O presente é, portanto, o único tempo por ele experimentado (em cada momento se é diferente do que se foi).
A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética, como impõe o Modernismo. O poeta recorre à ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção da arte.
Na minha opinião, a obra ortónima de Fernando Pessoa é a mais interessante e valiosa, embora, muitas vezes, seja ofuscada pela obra dos seus heterónimos, ironicamente, pois, de facto, muitas vezes, o trabalho que Pessoa assinou com o seu próprio nome, parece ter uma falta de brilho, ou pelo menos de intensidade. Isto deve-se sobretudo ao facto de o poeta ter dado diversos aspectos da sua própria personalidade aos seus heterónimos – Álvaro de Campos ficou com a emoção, Ricardo Reis com a racionalidade planeada e Alberto Caeiro com a inspiração naturalista/ sensacionismo. Pessoa chega a referir, em carta, a um dos seus amigos críticos literários, que nada restava dele quando chegava o tempo de escrever com o seu próprio nome.
Concluindo, a poesia ortónima de Fernando Pessoa é caracterizada por um sentimento de leveza e tédio, um sentimento existencialista, mas no qual transparece a mesma angústia de viver e o desespero por procura de significados que encontramos tão profundos na "Náusea".
Assim sendo, mesmo nas suas temáticas mais fortes, Pessoa escreve como se passasse de leve pela poesia, como passou de leve pela vida.

Reflexões - Álvaro de Campos

Por Naimeche Gulabchande


De todos os heterónimos de Fernando Pessoa que estudei (Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos), o poeta Álvaro de Campos foi de quem mais gostei.
Gosto bastante do facto de Álvaro de Campos ser um poeta modernista e sensacionista, pois acho que os poemas da autoria deste poeta são aqueles que mais emoção e mais sentimento transmitem ao leitor pela utilização de traços estilísticos como grafismo expressivo, enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva e também onomatopeias, embora não muito frequentes.
Acho engraçado o facto de Álvaro de Campos ser o oposto de Ricardo Reis, que foi o heterónimo de que menos gostei porque acho-o triste, talvez devido ao modo como encara a vida pois considera que temos que viver em conformidade com as leis do destino, fugindo à dor, e abdicando de lutar por aquilo em que acreditamos, procurando, assim, a ataraxia.
Campos, pelo contrário, mostra-nos que sentir é tudo e faz das sensações a realidade da vida; mas não lhe basta sentir, Campos procura “sentir tudo de todas as maneiras”.
Biograficamente, é caracterizado por Pessoa como vanguardista ou futurista, o que achei bastante interessante, pois dos poemas que li, gostei bastante da “Ode Triunfal”, onde Campos apresenta, em tom futurista, a civilização moderna, as novas máquinas e os valores do progresso.
Campos é um cantor do mundo moderno, é, portanto, um poeta modernista, pois tanto celebra em poemas com estilo torrencial, amplo, delirante e, por vezes, violento, a civilização industrial e mecânica, como apresenta o desencanto do quotidiano citadino.
Campos faz a ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional, tem uma atitude escandalosa e procura viver com excesso de sensações, o que faz dele, no meu ponto de vista, um poeta “vivo” e bastante interessante.
No entanto, não apreciei muito a terceira fase deste poeta, o pessimismo, o sono, o cansaço, a desilusão, o desânimo e a frustração que ele mostra em poemas como Lisbon Revisited. Campos mostra-se como incapacitado, abatido, vazio e, de certa forma, um incompreendido, o que é, na minha opinião, totalmente o oposto do sensacionismo onde ele se mostra “vivo” e com vontade de viver e sentir as coisas com excesso.
Concluindo, Álvaro de Campos é o heterónimo de que mais gostei pelo estilo que adopta, o “sensacionismo”, o sentir tudo de todas as formas.