segunda-feira, 12 de abril de 2010

Reflexões - Alberto Caeiro

Por Inês Godinho (12º A)

É na incessante tentativa de descoberta do seu próprio “eu” que Fernando Pessoa acaba por ficar perdido no meio de uma identidade múltipla.
A sua sensação de hesitação e dúvida levam-no a criar personagens que exprimem percepções, conhecimentos de vida e do mundo e estados de alma por vezes distintos dos seus, representando assim a diversidade que possui interiormente.
O “eu” de Fernando Pessoa despersonaliza-se, desdobra-se e conquista a capacidade de fingir criando assim os seus heterónimos que lhe permitiram “viver quase todas as possibilidades de ser e de estar no mundo”.
A busca da felicidade, inatingível devido à constante procura do conhecimento associado ao pensamento, levou Fernando Pessoa a criar o famoso “Guardador de Rebanhos”, poeta da natureza e da simplicidade. Alberto Caeiro nasceu em 1889, em Lisboa, e morreu em 1915. Não tendo profissão nem educação, acabou por viver de pequenos rendimentos, no campo, onde aprendeu a viver de acordo com a Natureza, amando-a por ela mesma e revelando-se um poeta pagão.
Contrariamente a Fernando Pessoa que, como ser consciente, não consegue tirar partido das coisas pois racionaliza-as demasiado, Alberto Caeiro interpreta o mundo através dos sentidos uma vez que não há conhecimento implícito no que vê. Leva a cabo uma recusa do pensamento na qual apenas interessa o real e o objectivo. Sente-se, assim, parte integrante da Natureza, amando-a por si só.
A felicidade que lhe advém do facto de não pensar e que lhe permite viver despreocupadamente segundo o lema ”pensar é estar doente dos olhos” faz deste heterónimo o meu predilecto pois, hoje em dia, as pessoas têm tendência a pensar demasiado esquecendo-se que o verdadeiro sentido e significado das coisas pode ser encontrado de formas simples e não requerem mais do que uma observação.
Tal como Caeiro, também nós precisamos por vezes de afastar os pensamentos que nos possam perturbar e concentrarmo-nos em observar o mundo de forma simples para que assim consigamos alcançar a tão esperada felicidade.

Reflexões - Fernando Pessoa

Por Inês Sousa (12º C)


Pediram-me para escolher um de entre os vários heterónimos de Fernando Pessoa. Tarefa difícil; afinal, toda a poesia de Pessoa assenta numa única base – a dor de pensar, ou melhor, como evitá-la.
Todos os poetas de Pessoa adoptaram, assim, estratégias diferentes para superar este problema com que todos nos deparamos. Caeiro, o mestre, suspende os pensamentos e substitui-os apenas por sensações, como uma criança crescida. Reis bloqueia os sentimentos para evitar ferir-se. Campos maravilha-se com a técnica e a modernidade, mas fica deprimido com a sociedade moralista que a criou. E Pessoa ortónimo sonha – sonha com a infância idílica, com diferentes “eus” dentro do “eu”, imagina os sentimentos para não ter de sentir os reais. Todos estes sonhos protegem-no da realidade dura e fria.
Penso que a magia de Pessoa está aí: todos sofremos com a dor de pensar, logo, não é difícil identificarmo-nos com os seus poemas, nos quais são criados escudos para evitar que soframos. No entanto, os escudos criados por Caeiro, Reis ou Campos são impossíveis de alcançar; se fossem reais, iriam despersonalizar-nos. Não nos é possível, enquanto humanos, não pensarmos, não nos emocionarmos, olharmos para tudo como se de crianças nos tratássemos.
Pessoa ortónimo é o único próximo da realidade humana. Diferente das protecções idealizadas dos heterónimos, a sua protecção consiste em sonhar – algo tipicamente humano. É claro que, quando acordamos do sonho, a realidade magoa-nos novamente; o próprio Pessoa se apercebe disso. Mas, pelo menos enquanto sonhamos, mantemo-nos intactos. É algo que podemos fazer e não idealizar.
Por esta razão, é Pessoa ortónimo que me atrai mais. Prefiro magoar-me, mas ser humana, do que não me magoar por ser uma estátua…

Reflexões - Ricardo Reis

Por Filipe Cardoso (12º B)


Produzir um texto escrito sobre qual o meu heterónimo preferido é algo complicado, pois, à primeira vista, não há um heterónimo com o qual me identifique mais. Todos têm características que acho imensamente interessantes, como foi o objectivo da obra de Pessoa. Todos eles foram criados de forma a completarem-se uns aos outros perfeitamente, com características absolutamente únicas. Pessoa conseguiu transpor as suas dúvidas e problemas existenciais para o papel, numa obra fantástica, sendo difícil escolher apenas um heterónimo como “o tal”, pois eles estão todos interligados.
No entanto, o heterónimo com o qual eu mais me gostaria de identificar é aquele que eu mais respeito e o que me intriga mais (apesar de isso não acontecer com todas as suas características, apenas com algumas), e também aquele que eu compreendo pior, sendo talvez essa a razão, pensando bem, pela qual eu o escolho. Falo sobre Ricardo Reis.
Reis adquiriu de Caeiro o gosto pela Natureza e a capacidade de estar em harmonia com ela, consolidando isso perfeitamente com as doutrinas Gregas do Estoicismo e Epicurismo, de forma a encontrar a felicidade, objectivo último tanto de Fernando Pessoa ortónimo, como dos heterónimos que ele criou. No entanto, ao contrário dos outros heterónimos, Reis parece ser o que melhor consolida a busca pela felicidade (uma tarefa difícil) com a realidade em sua volta. Caeiro, o seu mestre, tenta atingi-la (e fá-lo) de forma utópica e impossível na realidade em que todos vivemos; Reis contempla a Natureza, tenta encontrar nela a felicidade, tal como o meu mestre, mas de forma muito mais realista (pelo menos no que é similar às doutrinas gregas), apesar de o Estoicismo (a filosofia que o faz evitar viver a vida muito intensamente) precisar de imenso auto-controlo (sendo também essa uma das suas características). A importância que dá ao Latim, à mitologia grega e à civilização grega no geral também é algo que me intriga muito, pois a civilização grega é, em quase todos os sentidos, a base da nossa cultura, especialmente Europeia, e tudo o que os gregos nos deram foi importantíssimo para a compreensão do mundo.
O grande problema é que Reis “exagera” na ataraxia: evita dar a mão a Lídia para evitar qualquer tipo de emoções, boas ou más, com objectivo último de evitar a dor (apesar de ser comum a todos os heterónimos de Pessoa eles terem a sua “característica pessoal” exagerada). Mesmo assim, a ideia de evitar a dor [extrema], evitando sentir emoções [extremas], para atingir um estado de espírito equilibrado, é, para mim, a melhor forma de atingir uma certa felicidade, a meu ver, pura e real, o que realmente fará Ricardo feliz, em comparação com o que Pessoa tenta fazer com Caeiro e Campos (apesar de, efectivamente, Caeiro ser feliz).
Isto torna Reis, para mim, o heterónimo mais interessante e respeitável: não pelas características factuais, como o helenismo, etc., mas pela busca da felicidade que ele estabelece.