segunda-feira, 12 de abril de 2010

Reflexões - Ricardo Reis

Por Filipe Cardoso (12º B)


Produzir um texto escrito sobre qual o meu heterónimo preferido é algo complicado, pois, à primeira vista, não há um heterónimo com o qual me identifique mais. Todos têm características que acho imensamente interessantes, como foi o objectivo da obra de Pessoa. Todos eles foram criados de forma a completarem-se uns aos outros perfeitamente, com características absolutamente únicas. Pessoa conseguiu transpor as suas dúvidas e problemas existenciais para o papel, numa obra fantástica, sendo difícil escolher apenas um heterónimo como “o tal”, pois eles estão todos interligados.
No entanto, o heterónimo com o qual eu mais me gostaria de identificar é aquele que eu mais respeito e o que me intriga mais (apesar de isso não acontecer com todas as suas características, apenas com algumas), e também aquele que eu compreendo pior, sendo talvez essa a razão, pensando bem, pela qual eu o escolho. Falo sobre Ricardo Reis.
Reis adquiriu de Caeiro o gosto pela Natureza e a capacidade de estar em harmonia com ela, consolidando isso perfeitamente com as doutrinas Gregas do Estoicismo e Epicurismo, de forma a encontrar a felicidade, objectivo último tanto de Fernando Pessoa ortónimo, como dos heterónimos que ele criou. No entanto, ao contrário dos outros heterónimos, Reis parece ser o que melhor consolida a busca pela felicidade (uma tarefa difícil) com a realidade em sua volta. Caeiro, o seu mestre, tenta atingi-la (e fá-lo) de forma utópica e impossível na realidade em que todos vivemos; Reis contempla a Natureza, tenta encontrar nela a felicidade, tal como o meu mestre, mas de forma muito mais realista (pelo menos no que é similar às doutrinas gregas), apesar de o Estoicismo (a filosofia que o faz evitar viver a vida muito intensamente) precisar de imenso auto-controlo (sendo também essa uma das suas características). A importância que dá ao Latim, à mitologia grega e à civilização grega no geral também é algo que me intriga muito, pois a civilização grega é, em quase todos os sentidos, a base da nossa cultura, especialmente Europeia, e tudo o que os gregos nos deram foi importantíssimo para a compreensão do mundo.
O grande problema é que Reis “exagera” na ataraxia: evita dar a mão a Lídia para evitar qualquer tipo de emoções, boas ou más, com objectivo último de evitar a dor (apesar de ser comum a todos os heterónimos de Pessoa eles terem a sua “característica pessoal” exagerada). Mesmo assim, a ideia de evitar a dor [extrema], evitando sentir emoções [extremas], para atingir um estado de espírito equilibrado, é, para mim, a melhor forma de atingir uma certa felicidade, a meu ver, pura e real, o que realmente fará Ricardo feliz, em comparação com o que Pessoa tenta fazer com Caeiro e Campos (apesar de, efectivamente, Caeiro ser feliz).
Isto torna Reis, para mim, o heterónimo mais interessante e respeitável: não pelas características factuais, como o helenismo, etc., mas pela busca da felicidade que ele estabelece.

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