Equador, Miguel Sousa Tavares
Uma viagem sem volta à linha que divide o mundo!
“Linha que divide a terra em hemisfério norte e sul”. É assim que Miguel Sousa Tavares começa o seu primeiro e fascinante romance: Equador.
Com uma escrita cativante e simples, o autor retrata a vida de um homem comum, Luís Bernardo, cujas opiniões e habilidades intelectuais o levaram a mudar-se de armas e bagagens para São Tomé e Príncipe, terra para além do Equador, de onde deriva o título do livro, para exercer funções de governador e ver assim toda a sua vida, antes sem rumo, completamente alterada.
Desde o início desta brilhante história que o autor desvenda, com grande originalidade e perspicácia, as duas facetas distintas acerca do trabalho escravo nas roças africanas. Esta visão tão realista e a contextualização pormenorizada que o autor traduz na sua escrita permitem ao leitor a sensação de estar a respirar o ar quente e húmido daquelas terras e o querer desfolhar as páginas do livro sem que se aperceba que está junto de Luís.
Apesar de, na globalidade, estarmos perante um excelente romance, penso que há somente dois factos criticáveis no desenrolar da narrativa: um deles resume-se a grande parte dos acontecimentos finais e importantes ocorrerem tão inesperadamente que, em cerca de vinte páginas, vemos todo o fim subitamente desvendado e com grande surpresa temos de nos despedir das personagens; o outro cinge-se ao facto de se poderem dispensar algumas passagens, como alguns momentos políticos, que nos levam a perder o verdadeiro rumo da acção.
Aproveito esta oportunidade para elogiar a forma como o autor nos ilude, até ao último momento, fazendo crer que o desfecho deste romance seria diferente daquele que se revelou e também a destreza com que o escritor insere no romance Ann, uma personagem sem complexos, que dá ao livro um lado recheado de ousadia e transgressões, facto que contrasta com a sociedade de São Tomé e consequentemente altera a vida a Luís Bernardo.
Sílvia Balhana
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