Por Sara Ribeiro
De toda a escrita produzida por Fernando Pessoa, os versos que mais me cativaram foram sem dúvida alguma os do seu heterónimo Álvaro de Campos.
A sua escrita futurista e emotiva leva-nos a “sentir” o poema, a sua força, o seu excesso, a sua violência, e muitas outras emoções que deseja transmitir.
Para atingir este objectivo, o poeta não segue os padrões poéticos da época, optando antes pela ruptura com o tradicional (lírica), recorrendo principalmente às pontuações exclamativas e interjectivas, às personificações e até às metáforas ousadas, no sentido de transmitir tudo o que sentiu e pensou aquando da escrita dos seus versos. Todos estes parâmetros tornam a sua escrita dinâmica e inconfundível, livre e longa, destacando-se assim dos demais heterónimos de Pessoa.
Esta expressividade na escrita de Álvaro de Campos é o que mais me “encanta”, visto que mesmo nas fases em que este se mostra mais solitário, triste, descontente, como que numa certa abulia para com a sociedade, a evolução e a sua própria existência, escreve e apresenta versos carregados de sensações, de fúrias e dores, dúvidas e solidão, mas nunca deixando de nos surpreender.
Nestes versos solitários chega até a ser comparado com o ortónimo Pessoa, o que o torna ainda mais interessante, visto que de certa forma este se encontro mais conectado e possuiu mais características em comum com o seu “criador”.
Por todos estes motivos considero Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa com a sua escrita livre e “sem papas na língua”, uma escrita com o objectivo de transmitir sensações, tanto alegres, como tristes, tanto eufóricas como monótonas, o heterónimo que, de um ponto de vista poético, fascina e incute a vontade de ler cada um dos seus versos.
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