segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Reflexões - Álvaro de Campos

Por Naimeche Gulabchande


De todos os heterónimos de Fernando Pessoa que estudei (Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos), o poeta Álvaro de Campos foi de quem mais gostei.
Gosto bastante do facto de Álvaro de Campos ser um poeta modernista e sensacionista, pois acho que os poemas da autoria deste poeta são aqueles que mais emoção e mais sentimento transmitem ao leitor pela utilização de traços estilísticos como grafismo expressivo, enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva e também onomatopeias, embora não muito frequentes.
Acho engraçado o facto de Álvaro de Campos ser o oposto de Ricardo Reis, que foi o heterónimo de que menos gostei porque acho-o triste, talvez devido ao modo como encara a vida pois considera que temos que viver em conformidade com as leis do destino, fugindo à dor, e abdicando de lutar por aquilo em que acreditamos, procurando, assim, a ataraxia.
Campos, pelo contrário, mostra-nos que sentir é tudo e faz das sensações a realidade da vida; mas não lhe basta sentir, Campos procura “sentir tudo de todas as maneiras”.
Biograficamente, é caracterizado por Pessoa como vanguardista ou futurista, o que achei bastante interessante, pois dos poemas que li, gostei bastante da “Ode Triunfal”, onde Campos apresenta, em tom futurista, a civilização moderna, as novas máquinas e os valores do progresso.
Campos é um cantor do mundo moderno, é, portanto, um poeta modernista, pois tanto celebra em poemas com estilo torrencial, amplo, delirante e, por vezes, violento, a civilização industrial e mecânica, como apresenta o desencanto do quotidiano citadino.
Campos faz a ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional, tem uma atitude escandalosa e procura viver com excesso de sensações, o que faz dele, no meu ponto de vista, um poeta “vivo” e bastante interessante.
No entanto, não apreciei muito a terceira fase deste poeta, o pessimismo, o sono, o cansaço, a desilusão, o desânimo e a frustração que ele mostra em poemas como Lisbon Revisited. Campos mostra-se como incapacitado, abatido, vazio e, de certa forma, um incompreendido, o que é, na minha opinião, totalmente o oposto do sensacionismo onde ele se mostra “vivo” e com vontade de viver e sentir as coisas com excesso.
Concluindo, Álvaro de Campos é o heterónimo de que mais gostei pelo estilo que adopta, o “sensacionismo”, o sentir tudo de todas as formas.

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