Por Mariana Pombinho
Álvaro de Campos é o mais excêntrico e entusiasta de todas os “Fernando Pessoa” e é a sua noção da realidade e da civilização que me faz gostar mais dele do que dos restantes. O sujeito poético é, de todos, o mais sensacionista já que experimenta todas as sensações até ao seu limite e relaciona, na sua poesia, estas sensações com os movimentos e os barulhos da fábrica porque era engenheiro industrial. Assim, o poeta acredita que todas estas sensações, resultantes da revolução industrial e da civilização, e consequente desenvolvimento da maquinaria, vão trazer-lhe a felicidade há muito desejada. No entanto, quando percebe que estes novos “acessórios” não lhe concedem a felicidade, cai num abismo de frustração e decepção, pois tudo aquilo que tanto desejou não lhe trouxe o mais importante, a felicidade.
Por outro lado, Álvaro de Campos compara a sua vida adulta com a sua infância, e rapidamente percebe que, na sua infância, quando a tecnologia não estava tão desenvolvida, era mais feliz do que é na idade adulta, pelo que conclui que o desenvolvimento industrial não lhe traz a felicidade que ele tanto deseja.
Assim, este poeta apresenta três importantes fases: o decadentismo, em que o poeta experimenta o tédio e sente falta de experimentar sensações fortes. A esta fase segue-se a experimentação de sensações até ao limite e o delírio com a revolução industrial e, por fim, a fase abúlica em que o sujeito se sente angustiado e decepcionado já que toda a esperança que depositou em encontrar a felicidade foi em vão.
Álvaro de Campos é o heterónimo de que mais gosto porque penso que todos nós passamos pelas fases que são descritas nos seus poemas pois vivemos o dia-a-dia rodeados de tecnologia e queremos sempre adquirir cada vez mais este bens materiais, caindo na ilusão de que eles nos vão tornar mais felizes. No entanto, esta é uma proposição errada, já que a tecnologia pode tornar as nossas acções do quotidiano mais rápidas e mais fáceis de realizar, mas não são essas acções que nos fazem felizes e, por isso, caímos na decepção e percebemos que estas máquinas servem apenas para nos distrair daquilo que é mais importante.
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