Para a Minha Irmã, Jodi Picoult
Por Marta Catarino
Os Fitzgerald eram um casal feliz, como tantos outros, e tinham dois filhos, Jesse e Kate. Quando Kate tinha dois anos de idade, foi-lhe diagnosticado um cancro,uma leucemia rara. Para a salvar, os seus pais decidiram ter outro bebé, Anna, geneticamente programado para ser um dador perfeitamente compatível com Kate, de modo a utilizar as células do cordão umbilical. No entanto, como este tratamento não foi suficiente, desde o nascimento até à adolescência, Anna sofreu vários tratamentos médicos, invasivos e perigosos, a fim de fornecer sangue, medula óssea e outros tecidos para salvar a vida da irmã mais velha.
Toda a família sofre muito com a doença de Kate. Agora, ela precisa de um rim e Anna, com treze anos, resolve instaurar um processo legal, contratando um advogado, para requerer a emancipação médica, ou seja, ela quer ter direito a tomar decisões sobre o seu próprio corpo. Sara, a mãe, foi advogada e, portanto, decidiu representar-se a si própria, o marido e a filha doente neste julgamento.
Em Para a Minha Irmã surgem algumas questões com um elevado grau de complexidade, tais como: A Anna tem obrigação de arriscar a própria vida para salvar a irmã? Os pais têm o direito de tomar decisões quanto ao papel de dadora de Anna? O final da história é totalmente inesperado e surpreendente.
Este livro é uma narrativa em que as próprias personagens são os narradores de modo a que o leitor pode "escutar" as vozes dos diferentes membros da família, assim como de outras figuras de alguma importância na história.
Apreciação crítica
Ao longo de toda a narrativa surgem inúmeras expressões que marcam profundamente, sendo quase impossível controlar as nossas próprias emoções. E, sem dúvida, são as falas da Anna, a personagem mais nova, e o último capítulo expresso por Kate, a personagem doente, que contêm as citações que mais me marcaram e emocionaram. Como já enunciei, há muitas, por isso é difícil escolher dentro de um leque tão extenso, mas passo a referir duas delas:
"Quando era pequena, para mim o grande mistério não era como se faziam os bebés, mas porquê." (Anna)
"Penso no seu rim a trabalhar dentro de mim e no seu sangue a correr nas minhas veias. Eu levo-a comigo, para onde quer que vá." (Kate)
Um excerto de um diálogo entre Anna e Kate durante o transplante de medula óssea:
"O Dr. Chance está ao lado do suporte intravenoso, a segurar no saco de medula. Volto a Anna para que ela consiga vê-lo.
- Aquilo - digo-lhe eu - foi o que nos deste.
(...)
- Doeu-te? - pergunta a Kate.
- Mais ou menos. - (...) - E isso?
- Nem por isso. - Ela senta-se um pouco. - Olha, Anna?
- Sim?
- Ainda bem que veio de ti. - A Kate agarra na mão da Anna e coloca-a mesmo abaixo do cateter venoso central, um sítio que fica precariamente perto do seu coração."
Relativamente à obra que estou aqui a apresentar, não tenho nenhum aspecto negativo a referir. Posso afirmar, com completa sinceridade, que "Para a minha irmã" é o livro que mais apreciei ler de todos os outros que já li. Conforme a leitura ia evoluindo, eu cada vez me interiorizava mais na história.
"Para a minha irmã" de Jodi Picoult é o único livro desta escritora que li até ao momento, mas, sem dúvida, que pretendo ler mais, pois, segundo este livro, Jodi tem uma escrita simples, suave e fluente; os seus textos são muito bem estruturados e criativos; ela, com as palavras que escreve, tem a capacidade de nos prender de tal forma à história que quando acaba dá vontade de voltar ao início. Para além disto, considero que o facto dela usar as próprias personagens como narradores dá muito mais vida ao romance. Jodi Picoult tem uma maneira própria de escrever, uma forma fora do comum.
Dirigindo-me mais especificamente à história relatada pelo livro considerado, eu acho que todas as personagens (os pais, os três filhos, o advogado e a tutora ad litem) são especiais e têm a sua própria história, indo todas elas ao encontro da principal. Este livro não se fixa apenas na situação principal mas sim em várias outras, o que contribui para o facto de não ser, em nenhum momento, maçador. Para além de o livro ter passagens muito bonitas, contém algumas que são fortes no sentido que mexem bastante com as nossas emoções, mas para mim é um dos motivos pelos quais fiquei tão “agarrada”. O final é realmente estranho, o que nos leva a ficar, durante momentos, em estado de choque.
Concluindo, para quem gosta e aprecia histórias que tratam de casos de vida, que sejam sensíveis e que tenham um elevado grau de suspense, recomendo e aconselho vivamente a leitura do livro "Para a minha irmã".
Uma frase que exprime bem o que se pode esperar deste livro é:
"Picoult escreve com um toque de elegância, um olhar penetrante em relação aos pormenores e uma compreensão abrangente da delicadeza e da complexidade das relações humanas."
The Boston Globe
Esta obra fez-me reflectir sobre o papel de uma mãe (e de um pai também) no seio de uma família diferente e pensar, muito, sobre o certo e o errado. Será que qualquer pessoa usava um dos seus filhos para salvar outro que se encontra desesperadamente doente? Após a leitura deste livro, o pensamento que me surge perante esta questão é exactamente se uma mãe que fizesse tal, estaria a ser uma boa ou péssima mãe. Na minha opinião, é impossível imaginar o sofrimento e o desespero de uns pais perante uma situação delicada como a que é relatada no livro, logo, acho que não é correcto julgar quem tem de tomar decisões como as que aparecem ao longo do livro. Tenho ainda a enunciar que a personagem que mais me faz reflectir sobre o que é justo ou não, é, obviamente, a Anna, a qual, a meu ver, é quem sofre mais com tudo isto. Por fim, a conclusão a que eu chego é que o destino destas duas irmãs era que uma delas tinha de morrer para a outra conseguir ter uma vida, relativamente, normal.
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