Para a minha irmã, Jodi Picoult
Por Andreia Dias
Esta é uma obra que recomendaria porque, por exemplo, o seu vocabulário acessível permite ao leitor efectuar uma leitura mais fácil e prolongada. Também a ausência de narrador, sendo as próprias personagens, na primeira pessoa, a apresentarem as situações, os seus pontos de vista, as suas opiniões e os seus sentimentos, permite ao leitor a aproximação à história, passando mesmo a sentir e a partilhar as emoções. Esta aproximação proporciona ao leitor momentos extremamente emotivos, principalmente pela história que é relatada, já que aborda um tema muito actual e que emocionalmente é muito forte: o cancro.
O desenrolar da história, que apresenta as diversas adversidades que a família Fitzgerald teve de ultrapassar, acaba por se tornar fascinante sendo difícil de abandonar o acto de leitura.
O final da obra sendo surpreendente e inesperado, destaca-se por ser diferente das histórias vulgares, por não ser particularmente feliz. Contudo, considero que este desfecho atingiu o ponto que o leitor precisava, tornando a obra especial e acabando por marcar a luta e o sofrimento que o leitor viveu junto desta família.
Este livro acaba por demonstrar ao leitor a dura realidade com que muitas famílias se deparam e que até algum dia qualquer um de nós poderá ter de ultrapassar, onde o assunto central é o medo e a morte. Por isso, acaba por se tornar interessante, transmitindo ao leitor muitas lições de vida.
Esta obra aborda questões éticas e morais muito delicadas, assim como caracteriza devidamente os comportamentos humanos. Estes factores conjugados acabam por despertar no leitor um antagonismo de sentimentos, devido ao constante conflito de interesses.
Este foi um livro que me agradou pelo facto de apresentar situações complexas e com uma extrema gravidade que me fizeram reflectir sobre várias situações e circunstâncias que se impõem na nossa vida, nomeadamente a impotência do Homem face ao destino, sendo este um dos assuntos que me incomodou e que me sensibilizou.
Será justo, aos dois anos de idade, uma criança ser confrontada com o tipo mais perigoso e fulminante de leucemia?
O cancro não será sinónimo de morte, mas nesta história implicou a perda de vida por parte dos familiares e da própria criança, embora não fosse uma morte física. A idade de ouro e da inocência de Kate foi passada em hospitais e de mãos dadas com a preocupação e o medo do dia de amanhã, o que me chamou à atenção devido à fragilidade da nossa condição de seres humanos.
Por outro lado, deu-me uma perspectiva diferente desta doença. Esta criança foi crescendo e lidando com o infortúnio que lhe aconteceu de um modo saudável, aceitando o seu destino. Demonstrou sempre ser uma criança forte, conseguindo ultrapassar situações inimagináveis para a sua tenra idade, chegando ela mesmo a apoiar a família.
Assim, nesta obra foi bem visível o quão importante é o papel da família em qualquer situação mas principalmente nas situações mais dolorosas.
Os organismos geneticamente modificados foi outro dos assuntos abordados nesta obra que me fez reflectir acerca da sua viabilidade. Nesta história, uma mãe por amor à sua filha e com vontade de lutar pela sua sobrevivência decide ter uma outra filha geneticamente programada para que fosse totalmente compatível com Kate.
Porém, será justo uma criança nascer com o objectivo de doar as suas células, tecidos e mesmo órgãos sem o seu consentimento, tendo de passar por tratamentos invasivos que poderiam alterar o seu nível de vida?
Este é um livro sobre escolhas difíceis e muitas dúvidas, um livro que nos mostra vários caminhos e por isso nos dificulta o percurso. Por isso, ao longo da história senti-me incapaz de tomar partido por alguma das partes, visto que os pais agiram conforme acharam correcto perante a situação delicada da sua filha mais velha, e, principalmente, agiram desta forma porque a amavam e lutavam pela sua sobrevivência, sendo impossível conseguirem em simultâneo a estabilidade física e emocional de ambas as suas filhas.
Todavia, na opinião de Anna, esta teria o total direito sobre o seu corpo, pelo que aos 13 anos coloca um processo legal contra os seus pais a fim de adquirir a emancipação médica. Porém, como saberá uma criança o que será justo?
Desta forma, neste livro também é retratado o sentimento de justiça que acaba por deixar o leitor dividido entre a sobrevivência de uma criança e o decréscimo do nível de vida de outra.
Como será possível uma mãe conseguir optar de consciência tranquila por uma das suas duas filhas? Deste modo, com os leitores indecisos, acho que ninguém terá coragem de criticar qualquer acção que aquela mãe tenha cometido já que agiu sempre verdadeiramente com o coração.
Assim, considero que este livro levantou questões que diariamente não são discutidas nem sequer pensadas. Como tal, exige uma reflexão acerca do tema e conduz a conclusões variadas conforme a opinião do leitor relativamente à posição dos intervenientes na história.
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