Por Fábio Santos
De todos os heterónimos, aquele que mais gostei de estudar foi Ricardo Reis. Ricardo Reis é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com serenidade, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. Este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende o prazer do momento, o carpe diem, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Assim, procura a serenidade livre de afectos e de tudo o que possa perturbar o seu espírito. Há no seu pensamento uma atitude de luta contra tudo o que lhe tire o sossego. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, ou seja, a ataraxia (a tranquilidade sem qualquer perturbação). Sente que tem de viver em conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao desprazer, numa verdadeira ilusão da felicidade, conseguida pelo esforço estóico lúcido e disciplinado. Pessoa afirma que os próprios deuses “sobre quem pesa o fado” não têm a calma, a liberdade e a felicidade. Pessoa escreveu: “pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental”. Reis vive conforme a Natureza, liberto das paixões, indiferente às circunstâncias e aceitando voluntariamente o destino da vida. Apesar de Reis ficar angustiado com a efemeridade da vida, este aceita o seu destino pois considera ser essa a melhor forma de ser feliz. Será importante pensar e repensar em tudo aquilo que de menos bom nos acontece? Tudo passa, nada fica. Saber aceitar as circunstâncias da vida permite-nos encontrar o caminho da felicidade. É no poeta Ricardo Reis que é possível encontrar uma maneira de viver a vida sem muito sofrimento. Segundo este poeta, tudo deve ser aceite com calma e tranquilidade. Não seria útil pensarmos da mesma maneira que Ricardo Reis? Penso que sim, aceitar o que nos aparece pelo caminho e tentar superar todos os obstáculos faz-nos crescer enquanto seres humanos.
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