Por João Gomes
Fernando Pessoa, sim. Ortónimo? Alberto Caeiro? Ricardo Reis? Álvaro de Campos? Talvez, ortónimo. Considero que tenho algumas características de todos eles, sim, mas… aquele com que mais me identifico é o ortónimo, talvez por já ter “aprendido a pensar”, infelizmente.
Aprendi a pensar; aprendi a, por vezes, não ser eu; aprendi a criar novos “eu’s”; aprendi a fingir. Vendo bem, Pessoa usava a escrita para se expressar e poder entrar no reino do faz de conta, criando e usando os seus heterónimos a seu belo prazer e sendo “plural como o Universo”. Mas … e nós? Será que estamos assim tão longe de um certo tipo de fingimento? Não. Será que existe alguém consciente que nunca tenha fingido? Com certeza que já fingiu não ser ele, não sentir o que sente, não ser o que é. Todos nós fingimos; ou porque sim, ou porque não, ou porque nos obrigam, ou porque nos sentimos obrigados a isso, ou porque somos demasiado orgulhosos e não pretendemos mostrar a nossa fragilidade em algumas situações, ou porque vamos ao Senhor Doutor e fingimos estar bem para evitar a toma de medicamentos, ou porque a polícia nos manda parar e fingimos ter a mulher em trabalho de parto, ou porque os pais entram no quarto e nós dizemos estar bem, ao mesmo tempo que limpamos as lágrimas, ou porque estamos tristes e aparentamos mostrar o quão feliz somos. Pelo menos, eu finjo.
Uma outra particularidade característica do ortónimo, e que me diz algum respeito, é a enorme e penosa distância entre aquilo que é idealizado e o concretizado; e as consequências que isso acarreta. “Tudo o que faço ou medito fica sempre na metade.” Será que vale a pena sonhar? A maioria dos sonhos não passam de isso mesmo: de pura ilusão. E depois? E a mágoa que nos corrói quando nos apercebemos que, afinal, não conseguimos chegar onde queríamos, não conseguimos ser o que pretendíamos. Será sonhar recompensa suficiente à frustração que está ligada à realidade?
Uma última pergunta. Serei eu alguém tão alienado para estar sozinho, neste Mundo? Para fingir o que não sou ou para não querer sonhar e contentar-me com a realidade? Sei que Fernando Pessoa me compreenderia.
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